Ordenação Unsui em Florianópolis

agosto 2, 2010 às 6:25 pm | Publicado em Prática Zen Budista, Professor de Darma Zen Budista, Zen Budismo em Porto Alegre | 4 Comentários

Fiquei Tia de Darma!

Ao final do Retiro dos dias 24 e 25 de julho em Florianópolis, o Mestre Saikawa Roshi, Superintendente da Escola Soto Shu para a América do Sul (Sôkan), conferiu a Ordenação Unsui (Shukke Tokudo, às vezes traduzido como Ordenação Monástica) a três membros da Comunidade Zen de Florianópolis, alunos do Monge Genshô, irmão de Darma meu.

São eles: Shinpo Sodô (Sodô-san), Gôdô Tokushi (Tokushi-san) e Yôkô Jûshin  (Jûshin-san).

Neste momento, tornaram-se “unsui” (雲水, nuvem-água), que significa um ser que vai indo e vindo com a leveza da nuvem sem estar preso a nada ou ninguém, com a fluidez da água que se adapta a qualquer recipiente mas que tem a força de vencer qualquer rocha.

Estão na fase inicial de suas trajetórias como “unsui”, na graduação de “jôza”, que pode ser traduzido aproximadamente como “noviço”. Corresponde basicamente ao “sekha” (pali) dos sutras clássicos de Buda e tradição Teravada atual. Nesta fase, o “unsui” é um estudante-de-monge, que no Japão não teria qualquer autoridade para ensinar, orientar, coordenar – ou até nem mesmo permissão de aparecer para o público em geral. É a fase de “cale a boca e limpe o chão” – uma fase de valor inestimável no nosso treinamento.

Aqui no Ocidente e especialmente no Brasil, infelizmente, a situação é bem diferente. Poucos alunos neste país têm a oportunidade de ter uma convivência direta e constante com os seus professores. Acabam sendo “alunos à distância”, com poucas oportunidades de estar na companhia do professor. Acho isto muito triste, pois representa obstáculos enormes, quase intransponíveis, ao desenvolvimento da compreensão do Darma e prática corretas destes alunos. Muitos noviços brasileiros arcam com responsabilidades demais, cedo demais – até liderando grupos de prática, supervisionando aulas do Darma ou workshops de prática – quando na verdade são “estudantes” eles mesmos.

Estes noviços de Florianópolis serão abençoados em ter a presença viva e constante de seu professor – um professor que, se ainda não completou todo o seu treinamento formal, já passou por um Ango oficial de treinamento no exterior e possui a graduação de “Zagen” por ter completado a fase básica de treinamento com o seu Combate de Darma (Hossenshiki). Na convivência diária com o professor, estes noviços terão uma oportunidade maravilhosa de vivenciar não somente os aprendizados que vêm dos retiros, palestras e livros, mas também aquele aprendizado “transmissão coração a coração”, que só pode acontecer com a convivência física, numa base regular e constante, de professor e aluno. Desejo que eles possam ter a benção de passar pela fase de treinamento de “cale a boca e limpe o chão”, sem carregar responsabilidades dentro de sua Sanga.

Como ‘unsui’ (monges-em-treinamento), eles devem passar pelas etapas de monge-noviço (jôza), líder dos noviços (shuso, quando é realizado o Hossenshiki – Cerimônia de Combate ao Darma) e monge-aprendiz (zagen), até finalmente completar o seu treinamento, se tornando monge plenamente formado (rikishô), recebendo Denpô (Transmissão do Darma, a ordenação superior).

É uma caminhada longa que, às vezes, pode ser bastante difícil. Desejo aos meus “sobrinhos do Darma” muita Paz e Tranqüilidade nas suas jornadas e ofereço toda a minha solidariedade. Que possam atingir a Libertação do Sofrimento, o Nirvana, como ensinado pelo Buda.

Segue a orientação dada pelo Saikawa Roshi, Superintendente Geral da Escola Soto Zen na América do Sul, ao final da (re)ordenação monástica do chileno Meiyô Vargas realizada durante o Retiro Aberto em Florianópolis no dia 17 de outubro de 2008:

“O Caminho de Buda é um caminho. Analisar este caminho e tomar decisões seria acreditar, compreender, praticar, realizar e aplicar.

“Primeiro, temos que acreditar no Caminho de Buda. Em seguida, precisamos compreender em que direção andar e praticar, de acordo com esta compreensão. Você precisa realmente chegar a enxergar o seu Verdadeiro Eu, sua Verdadeira Natureza. Então, você aplicará isto na sua vida diária.

“No início, você praticará em benefício próprio. Mas, se você realizar o Caminho, ou Alcançar o Despertar, você terá que trabalhar 24 horas por dia para salvar os outros – do mesmo jeito como foi a vida de Shakyamuni Buda.

“Então, a vida de um “Shukke”, de um monge – alguém que deixou o lar – é muito, muito diferente. Viver neste mundo dualista e transmitir os ensinamentos do Darma da Unidade do Todo é uma coisa muito difícil – é difícil fazer as pessoas entender. Mas, para dar Paz e Harmonia, você terá que doar a sua vida aos outros.

“Como você desejou ser monge, você mostrou para mim a sua grande determinação. Devo lhe dar os meus parabéns – ou não?”

. Ler mais:
– A Ordem Monástica da Escola Soto Shu (texto reproduzido e revisado do antigo site do Zendo Brasil, sobre a prática Leiga e a Ordem Monástica de nossa escola)
Formação de um monge Soto Zen
Qual o significado de Kokusai Fukyôshi (Missionário Internacional)?
Qual o significado de Zuise (Debut)?
Qual o significado de Denpô (Transmissão de Darma)?
Qual o significado de Hôkei (Linhagem no Darma)?
Qual o Significado de Hossenshiki (Combate de Darma)?
Qual o Significado de Shuso (Líder dos Noviços)?
Qual o Significado de Unsui (2)?
Qual o Significado de Unsui (1)?
Qual o Significado de Shukke Tokudo?
Ordenação Monástica
– Ordenação Unsui em Florianópolis
Qual o Significado de Jukai?
– Os Preceitos do Bodisatva

4 Comentários »

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  1. Excelente texto, uma aula para os noviços e alunos do Dharma!

  2. Isshin-san, antes de receber o nome Shinpo, a Sôdô-san já era conhecida como Sôdo-san. Já o Tokushi-san, antes de receber este nome, era conhecido como Gôdô (合道) san, nome que recebeu no jukai (zaige tokudo). Shinpo foi adicionado antes do nome Sôdô, e Tokushi, adicionado após o nome de Gôdô. Não existe um padrão?
    O seu nome mesmo, ficou Isshin Sangai (一心三界), não? E Isshin veio no jukai; Sangai, no shukke tokudo, certo? E você continua conhecida como Isshin-san… Então imagino que não exista um padrão…

    • Prezado Emerson,
      Confesso que eu também estou um pouco confusa no momento sobre este assunto e estou aguardando a oportunidade de solicitar explicação quando o Saikawa Roshi vier para realizar um sesshin com a nossa Sanga… . De qualquer forma, o professor certamente tem o direito de colocar os nomes como achar adequado – talvez mudando a pronúncia ou até os ideogramas de acordo com eventuais mudanças no aluno. Mais pela frente, por favor, me lembre do assunto, para eu ti falar o que aprendi… .

      • OK. Isshin-san. Eu te lembro mais tarde. De qualquer forma, por ora sinto-me perfeitamente satisfeito com a explicação de que isto fica a cargo do professor.
        ありがとうございませんでした


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