Vídeo: Entrevista na Rede Aquarius na TV

abril 14, 2015 às 7:26 pm | Publicado em Blogroll, Entrevista, Meditação e Ciência, Meditação em Porto Alegre, Prática Zen Budista, Revistas - Artigos e Entrevistas, Uncategorized, Vídeo, Zen Budismo em Porto Alegre | Deixe um comentário

No dia 11 de abril, às 11 horas no Canal 11 da NET e Canal 55 na TV Aberta, estreou-se um novo programa voltado para a saúde, auto-conhecimento e bem-estar: “Rede Aquarius na TV“. O programa semanal é apresentado pela Carla P. Berto, da Rede Aquarius,

Assiste ao trecho da programa da minha entrevista:

O programa inaugural contou com a presença das seguintes pessoas:
Psicoterapeuta Daniele Tedesco (www.danieletedesco.com.br)
Dra. Clarice Luz (www.labvitrus.com.br)
Dra. Lidia Sabbadini (www.clinicasabbadini.com)
Professor Mauro Kwitko (www.maurokwitko.com.br)
Monja Isshin (aguasdacompaixao.wordpress.com)
Psicólogo Clínico Dr. Guy Desaulniers  (Fone: 3334.1781)
Márcia Unfer (www.fratino.com.br)

Visite o canal da Rede Aquarius no Youtube para assistir ao programa completo.

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Uma revisão de “Beat Zen, Square Zen, and Zen”, de Alan Watts (Final)

março 18, 2015 às 8:10 am | Publicado em Revistas - Artigos e Entrevistas | 1 Comentário

(2ª parte)

Em que Watts acertou

Watts também foi crítico do Beat Zen, que às vezes via o Zen como “extravagância indisciplinada” e “justificador de puro capricho na arte, literatura e na vida”. Watts considerava que o Zen da poesia de Allen Ginsberg era indireto e didático demais, ao passo que a definição do Zen de Jack Kerouac – “Não sei. Não me importa. E não faz diferença.” – era cheia de autodefesa e se afastou do Zen completamente.

Sim, é justo dizer, em retrospectiva, que Kerouac idealizou o Zen sem realmente compreendê-lo e que a jornada espiritual de Ginsberg logo deixaria o Zen para trás. Outros Beats – notadamente Gary Snyder e Philip Whalen – viriam a conhecer o Zen mais intimamente, contudo, a tempo.

A principal coisa que Watts acertou neste ensaio, penso, foi sua análise de por que uma boa parte dos Estados Unidos pós-guerra tornou-se fascinada pelo Zen. No Zen, disse Watts, as pessoas viam um antídoto à “antinaturalidade” tanto da Cristandade quanto da vida moderna. E talvez você tivesse que viver nos anos 1950 para avaliar como isso foi verdadeiro.

Os anos 1950 foram uma época na qual um Estados Unidos ainda se curando da Segunda Guerra Mundial e da Guerra da Coreia precisava de lealdade e conformidade. As pessoas estavam abaladas pelo medo de inimigos de fora e da aniquilação nuclear. Ao mesmo tempo, muito da velha ordem social doméstica pré-guerra estava sendo desafiada pela dessegregação e o nascente movimento pelos direitos civis.

Como resultado, grande parte dos Estados Unidos se retraiu em hiperconformidade e um apego desesperado ao tradicionalismo. Como Betty Friedan documentou em seu marcante “A Mística Feminina” (The Feminine Mystique, 1964), por exemplo, o papel da mulher na sociedade se tornou mais estreito e mais restrito após a Segunda Guerra Mundial, do que havia sido antes.

A Geração Beat foi uma resposta organicamente humana ao que a sociedade dominante havia se tornado. E havia algo no Zen que oferecia a tentadora possibilidade de reintegração entre o humano e a natureza, e uma libertação da blindagem compulsiva contra tudo o que marcou os anos 1950.

O mal-estar generalizado rompendo a fachada de conformidade dos anos 1950 “surge da suspeita de que nossa tentativa de dominar o mundo do lado de fora é um círculo vicioso no qual seremos condenados à insônia perpétua de controlar controles e supervisionar supervisão indefinidamente”, disse Watts. O Zen oferecia um “senso refrescante de inteireza a uma cultura na qual o espiritual e o material, o consciente e o inconsciente, haviam sido cataclismicamente separados”.

Foi assim que o Zen-Budismo tornou-se “chique”, por um tempo. Felizmente, é menos chique agora. No entanto, ainda oferece o mesmo caminho de reintegração e liberação que então oferecia.

E sobre Alan Watts? Se os livros de Watts “falam” a você, então, com certeza, desfrute-os. Ele tinha um monte de coisas valiosas a dizer.

Se o seu interesse principal é ler sobre o Zen, alguns dos missionários oficiais da Sōtō Zen (Kokusai Fukyōshi) mantêm sites em português, que você pode visitar. Veja a lista:

. Sōtō Zen Internacional, em Português

. Comunidade Budista Sōtō Zenshu da América do Sul (Templo Busshin-ji – Dōshō Saikawa Rōshi) – São Paulo, SP

. Monja Isshin, Sensei

. Jisui Zendō: Sanga Águas da Compaixão (Monja Isshin, Sensei) – Porto Alegre – RS

. Mosteiro Zen Morro da Vargem (Monge Daiju Bitti, Sensei) – Ibiraçu – ES

. Monja Coen, Sensei

. Zendo Brasil, Tenzui Zendō (Monja Coen, Sensei) – São Paulo – SP

. Templo Enkoji (Monge Tensho Ohata, Sensei) – Itapecerica da Serra – SP

. Templo Zengtsuzan Taikan-ji (Monge Enjō, Sensei) – Pedra Bela – SP

. Templo Zen das Alterosas (Monge Mokugen, Sensei) – Belo Horizonte – MG

Também indicamos:

Daissen Portal Zen-Budista (Monge Genshō) – Florianópolis – SC

e o Blog O Pico da Montanha (Monge Genshō)

 

Tradução livre do grupo “Tradutores do Zen” (colaboraram neste texto Luan Luna e Emerson Ricardo Zamprogno; supervisão de Isshin-sensei; revisão ortográfica de Rodrigo Daien). Texto de autoria de Barbara O’Brien, originalmente publicado no site http://buddhism.about.com/

Uma revisão de “Beat Zen, Square Zen, and Zen”, de Alan Watts (2)

março 17, 2015 às 8:08 am | Publicado em Revistas - Artigos e Entrevistas | 2 Comentários
Imagem encontrado na página: http://en.wikipedia.org/wiki/M._C._Escher

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(1ª parte)

Em que Watts errou

A primeira frase de Watts me balançou: “É tão difícil para os anglo-saxões quanto para os japoneses absorver algo tão chinês quanto o Zen”. Deixando de lado o uso tão embaraçoso do termo “anglo-saxão” para se referir aos “ocidentais”, parece-me que o Japão absorveu o Zen muitissimamente bem. Mas isso nos leva ao coração do que Watts errou.

Ao continuar a leitura, percebe-se que o “Zen quadrado” do título é o Zen japonês, “com sua hierarquia claramente definida, sua rígida disciplina e seus testes específicos do satori”. Ele comparou o Zen japonês à sua antiga versão, o Zen chinês, chamado Chan, o qual Watts imaginava ser leve e natural, e mais parecido com o Taoismo.

Entretanto, a visão idealista de Watts sobre o Chan ignora o fato de que o Chan também possuía e possui suas hierarquias, disciplina e testes, e a História aponta que devem ter sido tão bem definidos, rígidos e específicos na dinastia chinesa T’ang quanto eles se tornariam no Japão. A história do Chan é cheia de relatos sobre monges passando anos em meditação e outras práticas para atingir a Iluminação. O Zen libertário da imaginação de Watts nunca existiu.

Por exemplo, Watts citou Lin-Chi (Linji Yixuan, morto em 866), um proeminente mestre do Chan da Dinastia T’ang, dizendo: “No Budismo não há lugar para a utilização do esforço”. Essa frase vem sendo traduzida por outros como “Não há muito que fazer” e/ou “A Lei do Buda não guarda espaço para atividades complicadas”, e eu não sei qual é mais precisa.

O que eu sei é que para nossos padrões, Linji deve ter sido um terror. Ele era famoso por seus rigorosos métodos de ensino, os quais incluíam gritos, insultos e socos. Então onde está o “pouco espaço para o uso do esforço”? De fato, para a maioria de nós custa considerável esforço, antes da prática se tornar sem esforço. Nesse assunto, a maior inspiração de Watts foi o estudioso japonês D. T. Suzuki, que aprendeu o Zen num monastério Rinzai – quase o mais “quadrado” que existe.

Eu estou pensando agora sobre uma frase de um poema do venerável professor Theravāda chamado Phra Ajaan Mun Bhuridatta Mahathera, que descreveu uma mente purificada de máculas: “A mente, livre de ficar encantada por qualquer coisa, para com a sua luta”. Sim, quando a mente para de lutar, não há esforço. A literatura Zen, tanto a japonesa como a chinesa, é cheia de descrições sobre o estado de não esforço de um ser realizado. O grande paradoxo da prática é que a maioria das pessoas precisa fazer grande esforço para parar de lutar e atingir um estado de não esforço. O Budismo é fácil, sim, mas nós somos difíceis.

O ensaio é permeado de muitas referências ao Taoismo. O grau a que o Budismo chinês, incluindo o Chan, foi influenciado pelo Taoismo está sendo questionado por muitos estudiosos atuais. Alguns decidiram que não houve qualquer influência. Eu não iria tão longe; cheguei ao Zen através do Taoismo filosófico e me parece que houve alguma influência, pelo menos em como o Chan explica as coisas. Mas é ir longe demais presumir que o Chan da Dinastia T’ang foi tão Taoista quanto Budista, como parece fazer Watts. (continua)

Tradução livre do grupo “Tradutores do Zen” (colaboraram neste texto Luan Luna e Emerson Ricardo Zamprogno; supervisão de Isshin-sensei; revisão ortográfica de Rodrigo Daien). Texto de autoria de Barbara O’Brien, originalmente publicado no site http://buddhism.about.com/

Uma revisão de “Beat Zen, Square Zen, and Zen”, de Alan Watts (1)

março 16, 2015 às 8:19 am | Publicado em Revistas - Artigos e Entrevistas | 1 Comentário

Alan Watts (1915-1973) possivelmente fez mais para popularizar o Zen-Budismo no Ocidente do que qualquer outro. Seus muitos livros sobre o Zen ainda são impressos e as pessoas ainda vão até eles em busca de inspiração e insight. Grande parte do Ocidente obteve suas primeiras impressões do Zen através de Watts.

O Zen Ocidental recorda Watts hoje com certa ambivalência, entretanto. Sim, ele foi um escritor vigoroso e um homem de aguçada inteligência e conhecimento, e seus livros e palestras gravadas ainda atraem pessoas aos centros Zen. Muitos dos professores contemporâneos ocidentais do Zen começaram seu caminho no Zen ao lerem Alan Watts.

Todavia, há aspectos do Zen que Watts compreendeu de forma errada. Ele, às vezes, utilizava palavras dos antigos mestres fora de contexto e impunha suas próprias ideias e interpretações a respeito delas. Mais notoriamente, sua leitura equivocada de um dos antigos koan o levou a ignorar a importância do zazen – a meditação Zen – na prática Zen.

Muito da compreensão de Watts a respeito do Zen está refletida em seu ensaio “Beat Zen, Square Zen, and Zen”, que foi publicado na edição da primavera de 1958 do Chicago Review. Essa publicação foi um marco na história do Zen americano. Contém nove artigos sobre o Zen-Budismo e excertos do que viria a ser Dharma Bums, de Jack Kerouac, cujo “On the Road” (“Na Estrada”) havia sido um sucesso literário em 1957. Depois da publicação no Chicago Review, até mesmo a revista Time sentenciou (em 21 de julho de 1958): “O Zen-Budismo está crescendo cada vez mais chique a cada minuto”.

O Zen que se espalhou foi, na maior parte, o Beat Zen. Mas o Zen “chique” ainda é Zen? E como esse ensaio permaneceu influente por mais de 55 anos? Aqui estão minhas impressões. (continua)

Tradução livre do grupo “Tradutores do Zen” (colaboraram neste texto Luan Luna e Emerson Ricardo Zamprogno; supervisão de Isshin-sensei; revisão ortográfica de Rodrigo Daien). Texto de autoria de Barbara O’Brien, originalmente publicado no site http://buddhism.about.com/

Secularização do Budismo – torná-lo acessível ou arrancar-lhe as raízes?

fevereiro 25, 2015 às 9:55 pm | Publicado em Meditação em Porto Alegre, Prática Zen Budista, Professor de Darma Zen Budista, Revistas - Artigos e Entrevistas, Zen Budismo em Porto Alegre | Deixe um comentário

Imagem encontrado na página: http://pixabay.com/pt/equil%C3%ADbrio-medita%C3%A7%C3%A3o-meditar-110850/

texto por: Ethan Nichtern
Uma postagem convidada para o One City Blog por Vince Horn do Buddhist Geeks (Biografia Abaixo)

Hoje é algo muito comum e moderno querer secularizar o Budismo. Muitas organizações e movimentos sérios se orientam por esta premissa. Para ver o amplo alcance da secularição do Budismo basta observar o trabalho que o Mind e Life Institute está fazendo para tornar a meditação uma tendência dentro das ciências ou o trabalho que Jon Kabat-Zinn realizou com a técnica de Redução de Estresse Baseada em Plena Atenção.

De fato, tive muitas excelentes conversas, para o Buddhist Geeks Podcast, com alguns dos líderes desse movimento, incluindo o fundador do Mind and Life Institute, Adam Engle, e o monge zen Norman Fischer. Cada um deles apresentou razões extremamente boas para secularizar o dharma, logo não é difícil apreciar o trabalho que eles estão desenvolvendo. Mesmo assim, acredito que há algo limitante em esta ser a única ou a principal abordagem ao transmitirmos o Dharma para o Ocidente.

Mas permitam-me ser claro sobre o que quero dizer com “secularizar o Budismo”. Trato, especificamente, da tentativa de remover as “roupagens culturais” das tradições enquanto preservamos e re-embalamos a “essência” da tradição (que geralmente tem algo a ver com a prática da meditação). Durante o processo, a linguagem religiosa é jogada fora e uma nova linguagem “menos religiosa” é utilizada em substituição. Frases como “Budismo é mais uma ciência que uma religião” ou “a tecnologia central do budismo é a meditação” são indicadores do impulso secular. O problema é que o Budismo é uma religião. E é uma ciência. E é mais ainda…

Secularização é Sexy

Antes de entrar em alguns dos problemas que tenho notado nas premissas por detrás da secularização do Budismo, gostaria de reconhecer os resultados benéficos desse movimento. O principal parece ser que algumas das maravilhosas práticas de meditação e talvez algumas noções dos modelos por detrás delas são mais capazes de entrar na cultura dominante. Ainda vou chegar no porquê que assumir que a cultura dominante ocidental seja secular é um problema, mas por hora vamos apenas presumir que de outra forma muitas das pessoas não seriam apresentadas a estas práticas do Budismo secular. Isto é algo maravilhoso. Conectado a isso vemos o campo da “Ciência Contemplativa” começando a ser validado, bem como todo um grupo grande de cientistas fazendo carreira nesta intersecção. Há também muitos modos nos quais práticas meditativas baseadas no budismo tem sido levadas até contextos educacionais. Logo, deve ser reconhecido que existem benefícios reais surgindo de alguns desses movimentos, e eles devem continuar.

Seria o Ocidente realmente secular?

E agora, algumas de minhas maiores preocupações. Uma é acharmos que a cultura ocidental dominante realmente é secular. Alguém percebeu que, de fato, somos uma cultura incrivelmente religiosa? Algumas partes da Europa são um pouco menos, mas nos Estados Unidos aproximadamente 85% das pessoas se auto-identificam com alguma tradição religiosa. Isto nos torna uma sociedade secular ou uma altamente religiosa? E não vamos confundir a separação da Igreja em nosso processo político (o qual foi, na realidde, desenhado para apoiar os cristãos evangélicos que estavam sendo perseguidos e não os ateus que tinham receio de a religião corromper o governo) com ter uma sociedade secular. Nosso processo governamental tenta ao máximo não ser influenciado por qualquer tradição religiosa, mas temos um país repleto de pessoas religiosas que são ativas na governança.

E há esta ideia estranha que realmente existe uma dicotomia entre ciência e religião e que para que algo seja científico este não pode ser religioso (e vice versa). Mas será realmente este o caso, temos que arrancar qualquer coisa que remonte a “religião” do Budismo para que nossa cultura seja capaz de tolerá-lo?

Ai! Estas são minhas raízes!

O outro problema com a abordagem secular é que, frequentemente, na tentativa de distanciar-se do “Budismo como religião”, ocorre o descarte da significância histórica da tradição budista. Se você passar algum tempo estudando a história do Budismo, logo verá que é uma tradição religiosa antiga e em costante mudança. Ela possui uma série de práticas e crenças que se espalharam e misturaram com muitas outras influências. O Budismo, quando entrou no Tibet a partir da índia, misturou-se com o tradição xamanística Bon que lá havia. Quando entrou na China, mesclou-se com a influência do Confucionismo e o Taoísmo. E agora, ao entrar no Estados Unidos, está se misturando com nossa cultura científica e com as crenças estranhas sobre a diferença extrema entre religião e ciência. O problema em não enxergar como o Budismo evoluiu e em não ver a nós mesmos como parte desta evolução é que podemos acreditar que, de algum modo, somos os possuídores da “essência” do Budismo.

Mas o que é a essência removida das práticas, realizações, modelos e pessoas que contribuíram para esta tradição viva? Isto realmente existe? É possível que a ideia toda de uma essência do Budismo distinta de suas formas externas – aquelas formas que são tão irrelevantes que podemos simplismente ignorá-las e jogá-las fora – estaria vindo de um conjunto de pressupostos culturais que existe neste lugar e época? Temos que reconhecer essa possibilidade e enxergar que existe um tipo de violência em tentar arrancar algo de suas raízes históricas e que existe também um tipo de arrogância ao pensarmos que podemos ser bem sucedidos nesta empreitada.

Algumas questões para ainda considerar

Algumas questões que colocaria a mim mesmo e a algumas pessoas que se consideram influenciadas pela tradição Budista: estamos tão constrangidos por alguns componentes do Budismo (a aderência a códigos morais rigorosos, o mágico e mítico panteon da cosmologia budista, a metafísica da iluminação, etc) que sentimos a necessidade de jogar fora todos eles sem qualquer questionamento? Ou podemos suportar a dor de saber que todos os ensinamentos maravilhosos que advêm da tradição budista também são acompanhados de coisas que podemos não gostar ou entender? E se nós sabemos disso, pode isto significar que cada um de nós tem que lidar com o passado, presente e futuro do Budismo e suas relações com nossas vidas? Podemos realmente confiar que coisas como Redução de Estresse Baseado em Plena Atenção estão levando adiante todo o potencial da tradição budista? Com a secularização do Budismo, será que estamos corrento o risco real de perder algo de incrível importância enquanto tentamos dispensar o que consideramos não-essencial? Estas são questões que eu continuo a ponderar, sendo tanto um amante da sabedoria que é carregada através da tradição budista quanto da inovação e novas formas pelas quais aquela sabedoria pode ser carregada. Minha intuição é que ambas podem ser honradas – tradição e inovação – mas não se uma for valorizada em detrimento da outra. E certamente não honraremos se nós não nos colocarmos essas difíceis questões.
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Vince Horn vive como um monge moderno. Passa parte do seu ano em silêncio, meditando, em introspecção, desenvolvendo a espiritualidade. O resto do tempo passa engajado no mundo, onde produs e apresenta o show popular Buddhist Geeks, trabalha no departamento de produção da companhia de publicações espirituais Sounds True e escreve para várias publicações, incluindo seu blog pessoal Numinous Nonsense – e aprecia viver em Boulder, Colorado com sua esposa Emily.

 

Tradução livre do grupo “Tradutores do Zen” (colaborou neste texto Bruno Melnic Pir (inclusive revisão ortográfica); supervisão de Isshin-sensei). Texto originalmente publicado no site http://www.beliefnet.com/

Comprando o Dharma (final)

agosto 25, 2014 às 1:30 pm | Publicado em Professor de Darma Zen Budista, Revistas - Artigos e Entrevistas | Deixe um comentário

(continuação da 1ª parte)
A mentalidade consumista contagia os professores também. Notícias de eventos do dharma não anunciam apenas um evento, mas vendem um produto, nesse caso o professor ou o ensinamento. A maioria das propagandas mostra uma foto atrativa de um mestre espiritual sorrindo radiante ou parecendo sábio à distância. Ele ou ela é, assim como a propaganda declara, alguém grandemente realizado, bem respeitado, um mestre totalmente consumado. O tema a ser ensinado é um ensinamento secreto que no passado foi ensinado somente a um número seleto de discípulos qualificados. É o ensinamento supremo através dos qual os mestres anteriores atingiram a iluminação. Você pode receber tudo isso por apenas R$199,00 mais a dana para o professor. Registre-se cedo para reservar um assento. O que aconteceu com o antigo costume de mestres humildes que mantinham suas qualidades ocultas?

Com uma motivação sincera, deixar as pessoas que poderiam se beneficiar de um ensinamento espiritual ou retiro saberem a respeito, é válido e necessário. Precisamos considerar como fazer isso sem exageros em uma cultura que prospera no exagero.

Em uma economia de consumo o sucesso é medido em números. Deste modo muitos professores espirituais esperam que o público que vem aos ensinamentos seja grande, que a dana cresça continuamente, que seus livros vendam bem, e que convites para falar nos programas de televisão e de rádio sejam abundantes. Até que ponto nós decidimos onde vamos ensinar baseados na quantidade de dana que receberemos? É apenas coincidência que muitos professores vão apenas a comunidades ricas? Quantos professores vão a países em desenvolvimento ou a regiões de baixa renda em nosso próprio país, onde a dana é mísera?

São necessários fundos para divulgar os ensinamentos. De que forma os professores podem conseguir apoio consistente com um meio de vida correto? Nós fazemos insinuações, adulamos, ou sutilmente coagimos as pessoas de modo que venham a oferecer dinheiro para nós ou nossa organização? Concedemos aos doadores regalias extras que são negadas aos outros devotos, que podem ser mais sinceros, mas não tão bem de vida? Para promover um produto, ele deve ser atraente a compradores em potencial. O Budismo diz que meios hábeis – ensinar de acordo com a disposição e os interesses dos alunos – são necessários para guiar as pessoas no caminho. Mas, quando nossos meios hábeis degeneram em promoção?

Omitimos certas ideias ou ensinamentos, ou os negamos porque potenciais alunos não gostam deles e parariam de vir? O quanto nós diluímos os ensinamentos das escrituras em nome dos meios hábeis, quando nossa motivação é na verdade atrair e manter um grande número de discípulos?

Nossa mentalidade de consumo como alunos e professores espirituais nos arrasta para longe de realizar nossas aspirações espirituais mais profundas. No Budismo a distinção entre ações espirituais e não espirituais é feita primariamente em termos de motivação. Motivações que buscam apenas a felicidade nesta vida são consideradas mundanas porque focam em nossa própria felicidade imediata; motivações aspirando ao bom renascimento futuro, libertação e iluminação são espirituais porque buscam objetivos de longo prazo que beneficiam a si e a outros.

Ao descrever uma mente que busca a felicidade só nesta vida, o Buda destacava oito preocupações mundanas. Estas oito se dividem em quatro pares: (1) apego a ter dinheiro e posses materiais – desprazer quando não os temos; (2) apego ao elogio, aprovação e palavras que encham o ego – desprazer quando somos criticados; (3) apego a ter uma boa reputação e imagem – desprazer quando elas são manchadas; e (4) apego a objetos agradáveis aos sentidos (visões, sons, cheiros, sabores e objetos táteis) – desprazer quando encontramos objetos desagradáveis aos sentidos. Pessoalmente falando, quando examino meus estados mentais, a maioria deles consiste nestes oito, de tal modo que uma pura motivação do dharma é bem difícil.

O consumismo espiritual claramente se enquadra nas oito preocupações mundanas. Embora seja frequentemente mascarado por racionalizações inteligentes, ele ainda nos escraviza à felicidade só desta vida e sabota nossa nobre aspiração para que nenhuma prática do verdadeiro dharma possa de fato acontecer.

Talvez mais doloroso seja o dano que o consumismo espiritual causa a outros. Ele ameaça a pureza de nossas tradições espirituais aliciando-nos a “ajustar” o significado dos ensinamentos, privando assim as futuras gerações de instruções espirituais puras. Faz com que os outros percam a fé na eficácia da prática porque nos veem ensinando uma coisa, mas agindo de forma contrária. Leva instituições espirituais a criar estruturas que prejudicam as próprias pessoas que prometem ajudar.

Nossa mentalidade de consumo como alunos e professores espirituais nos arrasta para longe de realizar nossas aspirações espirituais mais profundas.

Precisamos nos tornar conscientes de como a mentalidade de consumo funciona em nós e em nossas comunidades e instituições espirituais. Precisamos redespertar o apreço pelo modelo tradicional de um praticante que viva uma vida de simplicidade e humildade, sinceridade e esforço, gentileza e compaixão. Precisamos escolher professores com estas qualidades, cultivar estas qualidades em nós mesmos e guiar nossos alunos para seu desenvolvimento. Precisamos nos lembrar de que o propósito de uma instituição espiritual não é preservar a si mesma, mas facilitar o ensinamento e a prática de uma tradição espiritual. Deveríamos ter uma estrutura institucional suficiente apenas para fazer isto e nada mais. Isto é essencial para manter a vitalidade de nossas tradições espirituais e evitar que elas se tornem conchas vazias.

Os budistas estão tentando introduzir os valores do dharma e estabelecer um papel substancial para o dharma na cultura ocidental, mas a mentalidade de consumo dificulta isto. Nosso desafio coletivo é praticar e ensinar o dharma de maneira que beneficiem a cultura contemporânea e ao mesmo tempo preservem a pureza dos ensinamentos.

Aluna de S. S. o Dalai Lama, Bhikshuni Thubten Chodron é monja desde 1977. Ela é conselheira espiritual da Fundação Dharma Friendship e cofundadora da Sravasti Abbey.

Tradução livre do grupo “Tradutores do Zen” (colaboraram neste texto Josiane Paula Borges e Emerson Ricardo Zamprogno; supervisão de Isshin-sensei; revisão ortográfica de Rodrigo Daien). Texto originalmente publicado no site http://www.tricycle.com, de autoria de Bhikshuni Thubten Chodron.

Comprando o Dharma

agosto 24, 2014 às 5:22 pm | Publicado em Professor de Darma Zen Budista, Revistas - Artigos e Entrevistas | 2 Comentários

Como conciliar nossos papéis como consumidores e praticantes budistas?

Bhikshuni Thubten Chodron

A cultura do consumo gerou uma classe de consumidores espirituais que trazem seus instintos aquisitivos para a prática do dharma.

Quando nos voltamos para a espiritualidade, podemos pensar que estamos deixando a corrupção do mundo para trás. Mas as nossas velhas maneiras de pensar não desaparecem; elas nos seguem, colorindo a forma como abordamos a prática espiritual. Uma vez que todos fomos criados para sermos bons consumidores – para obter o máximo ao pagar o mínimo -, como estudantes e professores de dharma levamos nossa mentalidade de consumidor direto para nossa prática espiritual.

Como é que o consumismo se manifesta por parte do aluno? Em primeiro lugar, nós vamos às compras em busca do melhor – o melhor grupo, o professor mais realizado, a prática mais elevada. Nós vamos deste lugar para outro, buscando o melhor produto espiritual para “comprar”. Queremos os mais altos ensinamentos, por isso ignoramos as práticas fundamentais. Visualizando-nos como discípulos totalmente qualificados, não vemos muita necessidade de práticas básicas, tais como disciplina ética e contenção dos nossos sentidos; em vez disso, saltamos para o caminho mais avançado.

Como consumidores, nós queremos ser entretidos. Vamos a um centro enquanto o professor é divertido, mas quando ouvimos os mesmos ensinamentos seguidas vezes, a gente se enjoa e busca pelo exótico. Vindo da tradição tibetana, posso dizer que o budismo tibetano nos favorece. Enquanto no Tibete muitas dessas práticas e acessórios são parte da cultura e não vistos como exóticos, no Ocidente se tornaram assim. Há tronos elevados para os professores, panos de brocado para cobrir os assentos e mesas, vestimentas, trompas longas, trompas curtas, sinos, tambores, procissões, recitação em tom grave e, oh sim, chapéus! Os amarelos, os vermelhos, pretos. Com tal parafernália, como poderia alguém em algum momento ficar entediado praticando o budismo tibetano? No entanto, depois de um tempo, tudo isto fica velho, e ficamos com a nossa própria mente, nosso próprio sofrimento. Tendo pouca resistência ou compromisso com a nossa prática ou nossos professores, buscamos um novo estímulo. Nós deixamos de notar que os nossos professores ainda fazem práticas fundamentais e participam de ensinamentos básicos dados por seus mentores espirituais. Nós nos recusamos a ver que a repetição pode ser exatamente do que precisamos ou que explorar a razão do nosso tédio poderia produzir novos insights.

A cultura do consumo é pautada por gratificação instantânea. Dizemos que queremos um relacionamento próximo de um mentor espiritual, mas quando a orientação do mentor desafia nossos desejos ou fisga demais o nosso ego, deixamos de segui-lo. No início da nossa prática, nós professamos ser buscadores espirituais sinceros, em busca da iluminação. Mas, depois da prática sanar nossos problemas imediatos – a precipitação emocional de um divórcio, o luto pela perda de um ente querido, ou os inumeráveis contratempos da vida -, nosso interesse espiritual desaparece, e mais uma vez buscamos a felicidade em bens, relacionamentos românticos, tecnologia e carreira.

No passado, os aspirantes espirituais enfrentavam dificuldades para encontrar professores. Tibetanos atravessaram os Himalayas para encontrar mentores sábios na Índia; Chineses cruzaram o deserto de Takla Makan e as montanhas Karakoram para visitar monastérios e trazer de volta escrituras da Índia. Mas nossa atitude consumista nos levou a esperar resultados com pouco esforço. Nós pensamos: “Por que devemos viajar para ouvir ensinamentos? Nosso professor deveria vir a nós! Temos trabalhos, famílias, vidas tão ocupadas. Não temos tempo para atravessar a cidade, muito menos para ir a outro continente”. Ao esquecermos que o esforço e o empenho do buscador o abrem para os ensinamentos, nos ressentimos de que nossa prática espiritual possa violar as nossas preferências.

Além disso, receber ensinamentos ou fazer práticas espirituais leva tempo, o qual não temos. Pedimos aos nossos professores que “modernizem” os ensinamentos e práticas – para encurtá-los e simplificá-los – para que eles convenientemente se ajustem às nossas vidas. Como consumidores funcionando em um mundo de oferta e demanda, levamos nosso negócio a outro lugar se nossos desejos não são satisfeitos. Budistas asiáticos fazem oferendas para a comunidade monástica para acumular méritos que tragam um bom renascimento. Olhando para eles, nós ocidentais dizemos: “Eles estão fazendo negócios espirituais. Eles estão praticando dana – generosidade – para conseguir algo para si mesmos”. Pensando que somos superiores aos asiáticos que seguem antigas tradições, não contribuímos à comunidade monástica. Agarrando-nos à nossa ética no trabalho, queremos que pretensos favorecidos saiam e consigam um emprego.

E quando ofertamos dana, qual é a nossa atitude? No fim de um retiro, alguém dá uma “palestra sobre dana”, dizendo que dana é generosidade espontânea, mas que devemos pensar em tudo que recebemos do professor, que tem uma família, um carro, uma hipoteca, contas de cartão de crédito, e precisa de nosso apoio financeiro. Dana não se tornou então uma outra maneira de se pagar por serviços prestados? Ao nos empenharmos em cálculos mentais rigorosos para determinar que quantia é razoável para tais serviços, perdemos o propósito de dana, que é se deleitar em presentear e dar de coração. Devemos dar porque queremos ser livres do estorvo da avareza, apreciar o dharma, querer que outros possam ouvir os ensinamentos, e desejar apoiar os praticantes que vivem de forma simples e dedicam seu tempo à pratica e estudo espirituais.

Consumismo alimenta o egocentrismo, e nossa prática espiritual se centraliza no eu, minhas necessidades, minhas preferências, o que funciona para mim. Pensamos: “O que posso conseguir com isso? Como isso irá me beneficiar?”. Então, um centro de dharma, templo, ou monastério se torna um lugar para onde vamos para receber, e não oferecer. Se pensarmos que uma atividade não atende nossas necessidades, não temos tempo ou dinheiro para apoiá-la. Eu visito com frequência um templo asiático onde pais e pessoas que não têm filhos trabalham na cozinha durante o acampamento de verão do dharma para crianças. Por quê? Porque eles gostam de ser uma parte da comunidade. Eles se importam com as crianças e com o futuro da sociedade. Eles querem apoiar atividades que beneficiam outras pessoas. Oferecer é parte de sua prática espiritual, e eles gostam.

Em uma sociedade consumista, nós obtemos status por usar certos produtos. Ser próximo de um professor famoso exalta o status espiritual de um aluno. Fazer com que o professor fique em nossa casa, dirija nosso carro, abençoe nossos objetos religiosos, ou assine uma foto eleva nosso status. Um dos melhores jeitos para se aproximar de um professor é ser um grande doador, obrigando os professores a nos ver para que mostrem sua apreciação. Não queremos doar anonimamente e perder uma possível recompensa.

Nós também conseguimos status possuindo objetos espirituais valiosos. Compramos estátuas bonitas, pinturas requintadas de figuras religiosas e belas fotografias de nossos professores, as quais colocamos em um altar elaborado em nossa casa. Quando nossos amigos espirituais nos visitam, fazemos com que eles admirem nossa coleção de artefatos, mas quando nossos parentes nos visitam, nós discretamente os cobrimos para evitar suas perguntas. Temos os livros espirituais mais atuais (preferencialmente autografados pelo autor), uma almofada confortável para meditação e o requisitado rosário (feito de cristal ou pedra, não de plástico, e abençoado por um ser sagrado).

Além disso, colecionamos eventos espirituais. Podemos divulgar uma lista de retiros ou iniciações de que participamos. Tornamo-nos conhecedores de centros de retiros, os quais avaliamos para os novatos. Gabamo-nos de ouvir um grande número de ensinamentos de professores famosos. E damos tapinhas em nossas costas por sermos praticantes tão sinceros. (Segue)

 

Tradução livre do grupo “Tradutores do Zen” (colaboraram neste texto Josiane Paula Borges e Emerson Ricardo Zamprogno; supervisão de Isshin-sensei; revisão ortográfica de Rodrigo Daien). Texto originalmente publicado no site http://www.tricycle.com, de autoria de Bhikshuni Thubten Chodron.

Não é preciso fazer Zazen, portanto é preciso fazer Zazen – Final

julho 25, 2014 às 8:50 am | Publicado em Professor de Darma Zen Budista, Revistas - Artigos e Entrevistas | Deixe um comentário

(continuação da 1ª parte)
Não lhe falta nada. Não lhe falta nada, por isso você pratica. Por essa razão você deve realizar e manifestar essa não falta, essa vida realizada, essa vida desperta que você é. Manifestar essa função de sabedoria compassiva que você é. Parafraseando Dōgen Zenji, se você quiser ser uma pessoa assim, assim como você é, você deve fazer assim. Você deve “fazer” essa pessoa que você é, então, você será essa pessoa que você é. Ao invés disso, geralmente nós tentamos fazer outra coisa, e então nos perguntamos por que não somos quem somos. Apesar do fato de não ser verdade, nós acreditamos que não somos aquilo que somos. Então, se acreditarmos que não somos, realmente não seremos o que somos.

Não lhe falta nada. Não lhe falta nenhuma parte da sabedoria e perfeição do Buddha, neste exato momento. Ouvir, respirar; você não difere nem um pouco do Buddha que ouve e respira. Nem por um fio de cabelo. E ainda assim podemos estar distantes. Então, é importante e valioso esclarecer. Ao esclarecer, esta não necessidade se manifesta. Somos o que somos.

O Buddha disse: “Não acredite em algo somente porque eu ou algum grande professor o disse”. Teste por si mesmo. Isso é exatamente o zazen. Prove e teste por si mesmo. É claro que você deve fazer seu próprio zazen. Ninguém pode fazê-lo por você. A única razão para se falar a respeito é apurar e esclarecer o teste. Se você está testando com o zazen da necessidade de fazer, das perdas e ganhos, então, não deixe que isso escape sem que você veja a perda e o ganho, a necessidade de algo e a falta de algo, porque isso mantém você longe do que você é.

Suzuki Rōshi sempre enfatizou o zazen sem ganhos. Onde ganhar surge – não lá fora, com outra pessoa, mas em relação a nós -, onde houver a crença de que falta algo, por favor, esteja atento a isso e pratique habilmente com isso; assim, ganho e falta não irão cegá-lo como o mérito que o Imperador Wu carregava consigo o sobrecarregou e o cegou. Teste.

Não lhe falta nada. Não lhe falta nada, por isso você pratica.

Você tem que fazer os testes adequados. Se o meu carro não dá a partida, se a bateria está arriada, e eu disser “Ok, vou fazer um teste”, e então pegar um calibrador de ar para os pneus, você dirá: “O que está acontecendo com você? O problema não é esse!”. Temos de esclarecer: “Como você testa o carro?”. Da mesma forma, temos de esclarecer como testar.

O Buddha está dizendo: “Você é isto”. Ele não diz: “Eu tenho algo a mais que eu vou dar a você”. Confie em si mesmo, confie em quem você é. Sente-se, respire, mantenha-se ouvindo agora mesmo, ouça agora mesmo. Seja íntimo de si mesmo. Mas você tem que fazê-lo por si mesmo. Se você só tentar entender racionalmente, não vai funcionar. É como um carro precisar de uma bateria nova e nós a deixarmos sobre o banco. Não vai dar a partida no carro. Você tem que ligá-la ao sistema elétrico. Aí a carga elétrica flui. Você tem que ligá-la ao sistema correto. Só pensar a respeito e tentar encaixar isso em nosso padrão de pensamento não vai funcionar. Nada de errado em falar e pensar, mas isso só vai até certo ponto. Da mesma forma que não há nada de errado em deixar coisas no assento ao seu lado; apenas use-as quando for necessário. Então, o Buddha diz que não acredite nisso porque você tenha ouvido as palavras, ou as tenha memorizado: teste. Faça o teste correto, apropriado, hábil. Faça o “zazen-sem-necessidade-de-fazer-zazen”. Então, você será este zazen do tipo “deve-se-fazer-zazen”, a vida prática de “não-precisar-praticar”, “deve-se-praticar”. Você será a sabedoria e a perfeição do Buddha que você é, manifestando compaixão através de sua vida. Nada além disso.

Precisamos ser claros sobre o que estamos fazendo. Aí o zazen que fazemos será o zazen do tipo “sem-necessidade-de-fazer-zazen”, o zazen da prática que é realização desde o comecinho. Zazen do momento único, Buddha do momento único. Você é o Buddha do um minuto, o Buddha dos trintas minutos, o Buddha do dia todo. Você sempre foi isso, desde o início. Já que você é essa pessoa, não outra pessoa, seja essa pessoa. Aqui está o imenso vazio sem virtude de Bodhidharma.

O Buddha disse: “Não acredite em algo somente porque eu ou algum grande professor o disse”. Teste por si mesmo.

Elihu Genmyo Smith é herdeiro do Dharma de Charlotte Joko Beck e cofundador da Escola Zen Ordinary Mind. Atualmente vive em Champaign – Illinois, onde é professor residente do Prairie Zen Center. É autor de “Ordinary Life, Wondrous Life”.

Tradução livre do grupo “Tradutores do Zen” (colaboraram neste texto Bruno Melnic Pir, Josiane Paula Borges e Emerson Ricardo Zamprogno; supervisão de Isshin-sensei; revisão ortográfica de Rodrigo Daien). Texto originalmente publicado no site http://sweepingzen.com

Não é preciso fazer Zazen, portanto é preciso fazer Zazen – Parte 1

julho 24, 2014 às 9:13 am | Publicado em Professor de Darma Zen Budista, Revistas - Artigos e Entrevistas | 1 Comentário

Não é preciso fazer zazen. Não é preciso praticar. Logo, precisamos fazer zazen, precisamos praticar. Percebe? Você vê este não precisar? Infelizmente, muitos de nós, a maior parte do tempo, vivemos em um mundo de precisar e não precisar. “Preciso disto”; “Não preciso daquilo”. E acreditamos profundamente nisso como sendo a verdade sobre quem somos e o que o mundo é. Todos os tipos de efeitos derivam disso: sofrimento, estresse e dor. Isto não é algo novo. Muitos de vocês conhecem o diálogo entre Bodhidharma e o Imperador Wu, no comentário ao primeiro caso do “Registro do Penhasco Azul”. O Imperador pergunta a Bodhidharma: “Eu apoiei a ordenação de monges, construí e mantive templos. Qual o mérito que há nisso?”. “Nenhum”, respondeu Bodhidharma.

Quando fazemos coisas visando ganho ou perda e estamos apegados a ganho e perda, neste momento abandonamos nosso patrimônio. Nós abandonamos quem somos por um mundo de ter mais ou menos, gostar e desgostar. Acreditamos que somos incompletos, ou sedentos por ganhos, necessitando melhorias. Transformamos o zazen em algo que nos tornará melhores, que causará mudanças. Sim, permanecemos sentados, e corpo-mente se aquieta; causa e efeito, os chamados efeitos presentes e futuros do acalmar corpo-mente. Mas, se esse é o limite de nosso zazen, então, bem ali, limitamos quem somos. Este é um zazen que visa lucro – uma prática e uma vida de tentar melhorar e obter algo a mais -, que na realidade desvia do que realmente somos.

Desde o princípio, Dōgen Zenji enfatiza que a prática está na realização, clarificando o mal-entendido que a realização é o resultado da prática, o mal-entendido que o olho do Dharma verdadeiro do maravilhoso tesouro do nirvana resulta de fazer algo e, portanto, de acumular e melhorar. Apesar do fato de oferecermos o mérito da recitação, do incenso, para o bem-estar dos outros… não há mérito. Não há mérito. Não há necessidade. Não lhe falta nada. Percebe? Mas você não acredita.

“Se praticarmos com uma ideia de ganho, estaremos no caminho errado.” Elihu Genmyo Smith

O Buddha disse que todos os seres são a sabedoria e a perfeição de Buddha. O que isto quer dizer? Quer dizer que “não é preciso fazer zazen”. Este é quem você é. Você não acredita nisso algumas vezes. O zazen não é necessário, logo, precisamos fazer zazen. Não deveríamos, devemos! Devemos ser quem somos. Este é o zazen que eu estimulo todos a serem. Esta é a vida que devemos ser.

O que é essa vida do “dever ser”?

Ao ouvir este “sem mérito”, o Imperador Wu fica confuso. Ele gastou uma fortuna, colocou muito esforço nisso, e foi elogiado por muitas pessoas por sua atividade e resultados maravilhosos. Então o Imperador Wu pergunta a Bodhidharma: “Qual é o princípio fundamental, qual é a verdade sagrada?”. Bodhidharma então responde: “Imenso vazio, sem virtudes”. Essa é a verdade de nossa vida, a verdade do zazen. Essa é a verdade, a verdade do ensinamento do Buddha, o budhadharma. Apesar de nosso anseio de nos apegarmos às nossas crenças em melhor e pior, em quais circunstâncias devem ser e quais circunstâncias não devem ser, “quais circunstâncias” significa imenso vazio, sem virtudes. Esse é o zazen do tipo “ter-que-fazer”.

Então, o Imperador Wu pergunta a Bodhidharma: “Quem é você? Quem está na minha frente?”. Bodhidharma revela mais uma vez: “Não sei”.

Por favor, percebam quais formas de barganhas às vezes deixamos entrar no nosso zazen, na nossa prática, e liberem-nas, esvaziemos nossas mãos delas. Não há problema de elas surgirem, mas abram as mãos e as liberem. Ter que fazer zazen não é “Eu devo fazer o zazen para me livrar dessa condição, para melhorá-la”. Imenso vazio, sem virtudes. Senão, vamos continuar acreditando nas histórias de ganho e perda. Nós realmente acreditamos nelas, e de certa forma as reforçamos. Tornamos essas histórias mais verdadeiras para nós, e aí, quanto mais tentamos melhorar, quanto mais tentamos fugir das crenças em carência, mais as carregamos. Apesar do fato de pensarmos que escapamos delas, na mesma proporção de nossos esforços por evitá-las, nós as reproduzimos, mesmo que temporariamente; nós não as vemos, não as sentimos. Porque estamos presos a ganhos, perdas, gostos, desgostos… à medida que falhamos em ser isso que nós somos, essa não necessidade de zazen. Não há necessidade de zazen, então, devemos fazer zazen. O que Bodhidharma fez quando deixou o Imperador Wu? Ele foi embora e se sentou em uma caverna por nove anos. Alguns de vocês já estiveram nessas cavernas, na China. Não há necessidade de se fazer zazen, então, ele se senta durante nove anos. Esse é o zazen sem mérito. É sobre isto que estamos conversando. (Segue)

Não é preciso fazer zazen. Não é preciso praticar. Logo, precisamos fazer zazen, precisamos praticar. Percebe?

Tradução livre do grupo “Tradutores do Zen” (colaboraram neste texto Bruno Melnic Pir, Josiane Paula Borges e Emerson Ricardo Zamprogno; supervisão de Isshin-sensei; revisão ortográfica de Rodrigo Daien). Texto originalmente publicado no site http://sweepingzen.com/, de autoria de Elihu Genmyo Smith (saiba mais sobre o mestre na conclusão deste trabalho).

Entrevistas sobre a novela “Joia Rara”

setembro 17, 2013 às 7:35 am | Publicado em Blogroll, Meditação em Porto Alegre, Prática Zen Budista, Revistas - Artigos e Entrevistas, Zen Budismo em Porto Alegre | 2 Comentários

Foram publicadas três entrevistas no dia 13 de setembro na página “Comportamento” do Jornal “O Tempo” (Belo Horizonte, MG) sobre a novela “Joia Rara”, que entrou no ar recentemente no ar, produzida pela Rede Globo. Foram entrevistados o Rev. Prof. Joaquim Monteiro, a Lama Sherab e a Monja Isshin.

Gostaria, porém, de esclarecer que não foi eu quem escreveu o artigo ou deu o título – simplesmente respondi às perguntas de uma jornalista bastante séria e sincera! Mais ainda, informo que não tenho absolutamente nada contra esta novela – acredito que os autores e a própria Rede Globo estarão procurando tratar do tema de uma forma respeitosa e sincera, mesmo sendo um programa de entretenimento – uma “novela” brasileira. Assim, sou até a favor desta novela, que acredito despertará interesse pelos ensinamentos budistas.

Como missionária, porém, tenho a obrigação de esclarecer, para quem se interessar, detalhes sobre os ensinamentos da minha escola, Soto Zen… .

Equívocos da novela ‘Joia Rara’

Monjas e especialista mostram conceitos usados erroneamente na atração que estreia no dia 16; interpretações sobre reencarnação e renascimento são o foco central

PUBLICADO EM 10/09/13 – 03h00
Ana Elizabeth Diniz
Especial para O TEMPO

Tenzin Gyatso, o 14º dalai-lama, líder espiritual tibetano, é considerado a reencarnação do bodisatyva da compaixão. É também visto como a manifestação de Chenrezig, na verdade o septuagésimo quarto numa linhagem que pode ser seguida até um menino brâmane que viveu na época de Buddha Shakyamuni.

“Frequentemente me perguntam se eu realmente acredito nisso. Não é simples responder. Mas quando levo em conta minha experiência nessa vida atual e minhas crenças budistas, não tenho nenhuma dificuldade em aceitar que eu estou conectado espiritualmente aos 13 dalai-lamas precedentes, a Chenrezig e ao próprio Buda”, disse ele, certa vez.

Inspiradas nessa história de reencarnação e em outras, as diretoras Thelma Guedes e Duca Rachid escreveram “Joia Rara”, próxima novela das 18h, que vai ao ar no dia 16. Nela, Mel Maia dá vida a Pérola, menina pura e preciosa que é a reencarnação de Ananda, vivido por Nelson Xavier, um líder espiritual budista.

Engana-se quem acredita que a reencarnação é um consenso dentro da filosofia budista. Segundo a monja Isshin Havens, 65, sensei, missionária internacional oficial do Soto Zen Budismo e líder do Jisui Zendô Sanga Águas da Compaixão, em Porto Alegre, “o budismo considera que não existe algo fixo, concreto, permanente, que se chamaria de alma, como se fosse uma pedrinha que vai de uma vida para outra, sendo polida, ou como se um motorista tivesse simplesmente trocado de carro”.

A monja comenta que hoje ela não tem mais nada a ver com aquela criancinha de três anos que ela foi um dia. “Mudou tudo, não trago mais em mim nenhum átomo daqueles, todos os meus pensamentos mudaram. A isso damos o nome de impermanência”.

Tudo muda e se transforma o tempo todo. Para os budistas, quando o homem entende o conceito de impermanência, elimina os apegos que geram o sofrimento. “O que pode continuar depois da morte é o fluxo de consciência que não é sólido. É a energia vital em movimento. São nossas ações positivas e negativas que criam um magnetismo que mantém essa consciência. O que vai eventualmente para outro renascimento é esse fluxo mental, a energia cármica, que guarda a somatória dos efeitos de todas as ações do passado”.

Monja Isshin explica que as memórias são voláteis. “Quando o corpo morre, esse fluxo de consciência vai se transformando, mas não é exatamente a continuação daquela pessoa. No zen, não falamos desse universo posterior. Focamos nossa atenção apenas nesta vida. Quando ficamos especulando sobre o que vem depois, desviamos nossa atenção sobre nosso trabalho aqui e agora, que é a libertação de todo sofrimento. Não temos como comprovar nada, tudo é especulação. Nos recusamos a falar se Deus existe ou não, mas não porque somos ateístas. Estamos renascendo milhares de vezes por segundo, e isso é tudo”, finaliza a monja.

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Tema é inviável para o formato 

PUBLICADO EM 10/09/13 – 03h00
Ana Elizabeth Diniz

Joaquim Antônio Bernardes Carneiro Monteiro, 57, doutor em estudos budistas pela Universidade de Komazawa, no Japão, e ministro de darma no budismo da Terra Pura (corrente do budismo japonês) está temerário sobre como a filosofia de Buda será abordada na novela “Joia Rara”.

“Esse é um tema de complexidade extraordinária, e não acredito que qualquer roteirista tenha a mínima noção do que se trata. Não vejo na TV Globo a capacidade de articular, em uma linguagem de novela, um discurso minimamente consequente sobre o assunto. Não percebo nada que seja vagamente parecido com o budismo”, alerta Joaquim.

Para ele, usar o termo reencarnação é um erro. “O budismo tem ideias como a impermanência e a insubstancialidade e não há como aceitar a ideia de uma mesma substância que se encarna, daí o termo renascimento”.

Para facilitar o entendimento sobre o tema, o especialista faz uma comparação usando as letras do alfabeto. “Sob a perspectiva da reencarnação, a letra A será sempre a mesma letra, mas muda de corpo, de roupagem. Pela ótica do renascimento, a letra A seria todo um conjunto de propensões mentais presentes no momento da morte e que vão provocar no futuro o surgimento de B, que surge em dependência causal de A. Existe um fluxo mental que tem independência relativa do corpo e não cessa com a morte. Não há coisas que sejam idênticas. O corpo morre, mas a mente é intangível”, finaliza. (AED)

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Mente reencarna em novo corpo após morte 

Lama Sherab Drolma diz que tulku, em tibetano, é reencarnação
PUBLICADO EM 10/09/13 – 03h00
Ana Elizabeth Diniz

Lama Sherab Drolma, 50, é professora do templo de budismo tibetano Chagdud Gonpa Khadro Ling, em Três Coroas, no Rio Grande do Sul.

Ela avalia que a novela “Joia Rara” talvez aponte um novo caminho para as pessoas. “Elas poderão se interessar pela filosofia budista que mostra como lidar com as emoções e a felicidade interna. Por outro lado, será muito difícil que uma novela possa transmitir princípios e ensinamentos tão complexos, de maneira correta e clara. Esse não é um processo rápido e nem fácil”.

Lama Sherab explica que tulku é um termo tibetano que significa reencarnação. “Nesse contexto, tulku é aplicado apenas para os mestres espirituais, pessoas que têm a capacidade de escolher o lugar, a família e as experiências que deseja viver em seu próximo renascimento. Ao contrário, as pessoas comuns vão renascer, mas em função do seu carma. Quando o corpo físico morre, a mente ou consciência sobrevive e reencarna em um novo corpo”.

Sidarta Gautama, o Buda, conseguiu se libertar desse ciclo, alcançou o estado de iluminação e deixou ensinamentos e métodos para mostrar que todas as pessoas podem atingir essa liberação.

fonte:

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