Uma revisão de “Beat Zen, Square Zen, and Zen”, de Alan Watts (Final)

março 18, 2015 às 8:10 am | Publicado em Revistas - Artigos e Entrevistas | 1 Comentário

(2ª parte)

Em que Watts acertou

Watts também foi crítico do Beat Zen, que às vezes via o Zen como “extravagância indisciplinada” e “justificador de puro capricho na arte, literatura e na vida”. Watts considerava que o Zen da poesia de Allen Ginsberg era indireto e didático demais, ao passo que a definição do Zen de Jack Kerouac – “Não sei. Não me importa. E não faz diferença.” – era cheia de autodefesa e se afastou do Zen completamente.

Sim, é justo dizer, em retrospectiva, que Kerouac idealizou o Zen sem realmente compreendê-lo e que a jornada espiritual de Ginsberg logo deixaria o Zen para trás. Outros Beats – notadamente Gary Snyder e Philip Whalen – viriam a conhecer o Zen mais intimamente, contudo, a tempo.

A principal coisa que Watts acertou neste ensaio, penso, foi sua análise de por que uma boa parte dos Estados Unidos pós-guerra tornou-se fascinada pelo Zen. No Zen, disse Watts, as pessoas viam um antídoto à “antinaturalidade” tanto da Cristandade quanto da vida moderna. E talvez você tivesse que viver nos anos 1950 para avaliar como isso foi verdadeiro.

Os anos 1950 foram uma época na qual um Estados Unidos ainda se curando da Segunda Guerra Mundial e da Guerra da Coreia precisava de lealdade e conformidade. As pessoas estavam abaladas pelo medo de inimigos de fora e da aniquilação nuclear. Ao mesmo tempo, muito da velha ordem social doméstica pré-guerra estava sendo desafiada pela dessegregação e o nascente movimento pelos direitos civis.

Como resultado, grande parte dos Estados Unidos se retraiu em hiperconformidade e um apego desesperado ao tradicionalismo. Como Betty Friedan documentou em seu marcante “A Mística Feminina” (The Feminine Mystique, 1964), por exemplo, o papel da mulher na sociedade se tornou mais estreito e mais restrito após a Segunda Guerra Mundial, do que havia sido antes.

A Geração Beat foi uma resposta organicamente humana ao que a sociedade dominante havia se tornado. E havia algo no Zen que oferecia a tentadora possibilidade de reintegração entre o humano e a natureza, e uma libertação da blindagem compulsiva contra tudo o que marcou os anos 1950.

O mal-estar generalizado rompendo a fachada de conformidade dos anos 1950 “surge da suspeita de que nossa tentativa de dominar o mundo do lado de fora é um círculo vicioso no qual seremos condenados à insônia perpétua de controlar controles e supervisionar supervisão indefinidamente”, disse Watts. O Zen oferecia um “senso refrescante de inteireza a uma cultura na qual o espiritual e o material, o consciente e o inconsciente, haviam sido cataclismicamente separados”.

Foi assim que o Zen-Budismo tornou-se “chique”, por um tempo. Felizmente, é menos chique agora. No entanto, ainda oferece o mesmo caminho de reintegração e liberação que então oferecia.

E sobre Alan Watts? Se os livros de Watts “falam” a você, então, com certeza, desfrute-os. Ele tinha um monte de coisas valiosas a dizer.

Se o seu interesse principal é ler sobre o Zen, alguns dos missionários oficiais da Sōtō Zen (Kokusai Fukyōshi) mantêm sites em português, que você pode visitar. Veja a lista:

. Sōtō Zen Internacional, em Português

. Comunidade Budista Sōtō Zenshu da América do Sul (Templo Busshin-ji – Dōshō Saikawa Rōshi) – São Paulo, SP

. Monja Isshin, Sensei

. Jisui Zendō: Sanga Águas da Compaixão (Monja Isshin, Sensei) – Porto Alegre – RS

. Mosteiro Zen Morro da Vargem (Monge Daiju Bitti, Sensei) – Ibiraçu – ES

. Monja Coen, Sensei

. Zendo Brasil, Tenzui Zendō (Monja Coen, Sensei) – São Paulo – SP

. Templo Enkoji (Monge Tensho Ohata, Sensei) – Itapecerica da Serra – SP

. Templo Zengtsuzan Taikan-ji (Monge Enjō, Sensei) – Pedra Bela – SP

. Templo Zen das Alterosas (Monge Mokugen, Sensei) – Belo Horizonte – MG

Também indicamos:

Daissen Portal Zen-Budista (Monge Genshō) – Florianópolis – SC

e o Blog O Pico da Montanha (Monge Genshō)

 

Tradução livre do grupo “Tradutores do Zen” (colaboraram neste texto Luan Luna e Emerson Ricardo Zamprogno; supervisão de Isshin-sensei; revisão ortográfica de Rodrigo Daien). Texto de autoria de Barbara O’Brien, originalmente publicado no site http://buddhism.about.com/

1 Comentário »

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  1. […] O ensaio é permeado de muitas referências ao Taoismo. O grau a que o Budismo chinês, incluindo o Chan, foi influenciado pelo Taoismo está sendo questionado por muitos estudiosos atuais. Alguns decidiram que não houve qualquer influência. Eu não iria tão longe; cheguei ao Zen através do Taoismo filosófico e me parece que houve alguma influência, pelo menos em como o Chan explica as coisas. Mas é ir longe demais presumir que o Chan da Dinastia T’ang foi tão Taoista quanto Budista, como parece fazer Watts. (continua) […]


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