A Ordem Monástica da Escola Soto Shu
dezembro 28, 2007 às 10:48 pm | Publicado em | 15 ComentáriosA Ordem Monástica da Escola Sôtô Shû
e
Sua Adaptação na Comunidade Soto Zen Budista Zendo Sul – Jisui Zendo
Como missionária internacional oficial (Jap. kokusai fukyoshi 国際布教使), a Monja Isshin segue a estrutura oficial da Escola Soto Shu do Japão (site oficial em Português) para os estágios da formação de monges e monjas (Ordem Monástica).
Para a estrutura dos estágios da prática leiga, segue uma adaptação de critérios adotados por vários centros de prática nos Estados Unidos, onde os praticantes, leigos e leigas, que receberam os Preceitos são tão importantes quanto os monges e monjas, podendo se tornar Professores (as) do Darma, porém sem qualquer registro ou outro reconhecimento oficial da escola Soto Shu no Japão, que reserva tal qualificação somente para monges plenamente formados, com o cumprimento de todos os requisitos.
Leigos e Leigas (Jap.Zaike 在家)
Simpatizante: pessoa que freqüenta ou não a comunidade e se interessa pelo zen budismo.
Praticante: pessoa que pratica seguindo as orientações da comunidade.
Membro Praticante: pessoa que passou pela cerimônia de novos membros, mantém uma prática regular e contínua e faz uma doação mensal mínima fixada pela comunidade. Pode votar nas assembléias gerais e assumir cargos voluntários auxiliares na comunidade.
Membro Monitor Auxiliar: pessoa que fez o Curso de Preceitos, recebeu os Preceitos, em cerimônia de “Jukai” 受戒 (Cerimônia de Transmissão dos Preceitos Leigos, freqüentemente chamada também de “zaike tokudo” 在家得度), e mantém uma prática regular e contínua. Pode ajudar no Monitoramento das práticas. Pode votar e ser votada nas assembléias gerais. É um díscipulo leigo de Buda – daishi 大姉 ou ubai 優婆夷 (quando é uma mulher) e koji 居士 or ubasoku 優婆塞 (quando é um homem) (sanscrito: upâsika e upâsaka).
Nota: A Cerimônia de Transmissão dos Preceitos Leigos (Jukai” 受戒) não é uma ordenação – assim sendo procuramos evitar o termo “leigo ordenado”, apesar do fato deste termo ter caído no uso comum no Ocidente. Os kanjis que formam o termo “zaike” significam “ficar no lar” e os kanjis para “tokudo” significam literalmente “obter a travessia”, ou “entrar no caminho para a outra margem”. Corresponde aproximadamente à crisma – confirmação – católica ou o batismo protestante, sendo uma profissão formal e pública do voto de seguir o Caminho de Buda na sua vida. Não possui qualquer significado de “colação de grau” ou de algum tipo de “formatura”, nem confere qualquer tipo de “autorização” especial. O termo “monge leigo” definitivamente não existe, por ser uma contradicção de termos.
No Japão, não é feito qualquer registro da transmissão dos preceitos para leigos na sede da escola, e, freqüentemente, nem no templo local.
Membro Monitor: pessoa que praticou como Monitor Auxiliar e foi aprovada como Monitor.
Monitor Instrutor: pessoa que tendo passado por todas as fases anteriores, recebe autorização para tal, atuando sob a supervisão e direção da comunidade e da Primaz Fundadora.
Ordem Monástica (Hôkai – Graduação no Darma):
Postulante: pessoa que assumiu o compromisso de se tornar monge, fez o curso de Preceitos, recebeu os Preceitos e mantém prática diária na comunidade, seguindo as orientações diretas da superiora e de seus auxiliares.
Noviço(a) (Jap. Jôza 上座): pessoa que, tendo passado pelas fases anteriores, recebe a ordenação monástica “shukke tokudo”出家得度. Isto significa um comprometimento a se dedicar integralmente ao Darma, na busca de realizar sua própria Iluminação para depois transmiti-la aos outros, praticando sob a orientação da Primaz Fundadora e de outros monges ordenados anteriormente (“sempai”).
Não é um “monge/monja formado(a)”. É um “estudante-de-monge” e deve ser chamado de “Noviço(a)”. É um “unsui” (雲水, “nuvem-água”, monge-em-treinamento, o que corresponde ao “sekha” em pali), no nível de “jôza” (noviço). Não deve se apresentar como “monge”, para não confundir o público que, na cultura brasileira, interpreta o termo como significando “monge formado”, qualificado a ser um líder espiritual.
A ordenação deve ser registrada na sede administrativa da escola Soto Zen no Japão. Este registro é provisório, válido por dez anos desde o dia da ordenação, durante qual período o noviço deverá completar o seu treinamento monástico obrigatório, que varia de dois a oito anos de internamento em um mosteiro reconhecido pela sede administrativa. Também é necessária a prática em uma comunidade (Sanga), orientada por um monge Professor do Darma oficialmente reconhecido pela sede no Japão (Monge Especial), para qualificar a sua graduação. Nessa fase de treinamento, não pode ensinar ou oficiar cerimônias como as de Transmissão dos Preceitos Budistas para Leigos, Ordenação Monástica, Casamento, Funerais e outras.
Observa-se que o termo “shukke tokudo” (出家得度) significa “deixar o lar e obter a travessia para a outra margem”. Enquanto que esta cerimônia é uma ordenação no sentido de significar a entrada numa ordem monástica, não é uma ordenação no sentido usual da palavra no ocidente no qual a pessoa é formalmente reconhecido como tendo completado o seu treinamento formal e ficando autorizada a ensinar a religião ou oficiar cerimônias e cuidar de um templo, conforme o uso desta palavra no cristianismo. Corresponde aproximadamente à ordinação “sāmaṇera-pabbajjā” da tradição de Budismo Teravada, e o aluno torna-se um “unsui”, ou “nuvem-água”, o que corresponde aproximadamente a “sāmaṇera” na tradição Teravada. Finalmente, corresponde aproximadamente à consagração de um noviço na tradição cristã, iniciando o seu treinamento formal ou o ingresso num seminário e início dos estudos. É tornar-se um estudante-de-monge. Algumas escolas, como a Terra Pura, realizam a cerimônia de Tokudo no final do treinamento e não no início.
Nota: No Brasil e em outros países de maioria não Budista, alguns noviços e noviças autorizados a auxiliar nas cerimônias podem substituir estas cerimônias com uma benção simples, na ausência absoluta de um monge ou monja formado para oficiar cerimônias de casamento e/ou batizado. Algumas outras escolas, com a Verdadeira Terra Pura Japonês, realizam esta cerimônia de ordenação (shukke tokudo) no final do treinamento, mas a regra mais comum no budismo é da cerimônia ser realizada no início do treinamento.
Shuso (首座): Líder dos Noviços durante um período de treinamento intensivo com um mínimo de três meses (um Ango), no qual fica tempo integral na comunidade. Passa pela Cerimônia de Combate do Darma (Jap. Shuso Hôssenshiki 首座法戦式), que representa a re-confirmação de seus votos. Corresponde aproximadamente à conclusão dos estudos de seminário na tradição católica.
Monge-Aprendiz (Jap. Zagen 座元): pessoa que terminou o período de Shuso, e continua o seu treinamento sob a orientação de monges superiores. O seu registro como “unsui” (“nuvem-água”, monge-em-treinamento) na sede da escola Soto Zen torna-se definitivo, agora na graduação de “zagen”. Pode, sob a orientação de seus professores, oficiar algumas cerimônias básicas, liderar ou orientar certas atividades da prática e atuar como um “sempai” , auxiliando no treinamento de noviços. Na ausência de um monge plenamente formado, pode atuar em algumas das funções básicas de monge, se for assim autorizado. Corresponde aproximadamente à posição de deácono na tradição católica. Ainda é um “unsui” (nuvem-água), ou monge-em-treinamento, apesar de já ser um “sempai” e possuir a autorização de exercer algumas funções.
Nota: no Brasil e em outros países de maioria não Budista, alguns monges-aprendizes podem, na ausência absoluta de um monge ou monja plenamente formado na sua região, receber autorização especial de seus professores para liderar grupos de prática, ministrar palestras, seminários, etc ou de realizar uma forma simplificada de algumas cerimônias como as de casamento e batizado.
Monge (Jap. Rikishô 力生): pessoa que, tendo passado por todas a fases anteriores, recebe a Transmissão de Darma (Denpô 伝法) num retiro de sete dias chamado Shihô (詞法). Representa a entrada no nível inicial da carreira oficial de monge Soto Zen. Neste momento, deixa de ser “unsui” (nuvem-água, monge-em-treinamento), pois terminou todo o treinamento formal oficial e o seu registo de monge na sede da escola Soto Zen passa para a categoria de monge plenamente formado. Possui a plena autoridade para oficiar casamentos, batizados, benções em geral, enterros, e outras cerimônias religiosas. Deixa de usar o kesa (manto) preto do “unsui” e passa a poder vestir um kesa marrom.
Poderá agora solicitar a autorização para a realização de cerimônias formais nos dois templos sede (Zuise 瑞世, nos templos Eihei-ji e Sôji-ji), quando se tornará “Oshô“; mas ainda não é oficialmente considerado um Professor do Darma (Sensei 先生).
Nota: Apesar de todas as diferenças das tradições, principalmente em relação aos preceitos, a cerimônia da tradição Teravada que corresponde mais aproximadamente a este passo talvez seria a “upasampadā”, ou “ordenação superior”, quando o “sāmaṇera” daquela tradição torna-se um “bhikkhu” (masculino) ou “bhikkuni” (feminino).
Monge Pleno (Jap. Oshô 和尚): Monge que completou todas as fomalidades da Transmissão de Darma e Zuise 瑞世 e ficou registrado na Ordem Soto Shu como monge plenamente formado. Pode atuar como um monge auxiliar num templo oficialmente reconhecido de tamanho médio ou grande ou pode liderar o seu próprio templo não-oficial ou centro de prática (zendô) sob a supervisão de um monge superior, pois ainda não pode ter alunos a não ser que tenha realizado o seu treinamento monástico oficial. É autorizado a vestir o kesa da cor safrão (um tom de marrom dourado-alaranjado) ou de outros cores (mas não pode usar kesas com bordados ou brocadas ainda).
Se – e somente se – já completou a sua prática em mosteiro oficial de treinamento, poderá solicitar o seu licenciamento como Professor do Darma (Kyôshi 教師), com uma graduação em acordo com o seu tempo de treinamento em tal mosteiro oficial. Nesta hora, adquire o direito de ser chamado de Sensei 先生 e passa a poder ter os seus próprios alunos e oficiar cerimônias de transmissão dos Preceitos Budistas para leigos, e ordenações monásticas e já terá uma graduação suficiente para solicitar a autorização para assumir a posição de Monge Titular (Jûshoku 住職) de um templo oficialmente reconhecido, se tal oportunidade se apresentar.
O seu registro de monge e os registros dos monges ordenados por ele precisam ficar num templo oficialmente reconhecido. Assim, quando o monge é responsável por um centro de prática (Zendô) ou de um templo não-oficialmente reconhecido, estes registros, na maioria dos casos, ficam no templo de professor de transmissão do darma.
Monge Titular (Jap. Jûshoku 住職): frequentemente traduzido como “abade” ou “vigário”, é o monge-professor de darma responsável por um templo oficial. Dependendo do tamanho do templo, pode chegar a ter Monges Plenos (Oshô 和尚) como auxiliares. O seu registro e os registros dos monges ordenados por ele agora são registrados através deste mesmo templo onde ele é o titular.
Pode eventualmente passar por uma cerimônia chamada Shinsanshiki (晋山式, Cerimônia de Subir a Montanha), onde é formalmente empossado como Monge Titular. Por ser uma cerimônia cara e despendiosa, nem sempre é realizada, especialmente no caso dos templos menores.
Monge Especial (Jap. Tokuso): pessoa que, tendo passado pelos níveis acima, faz três anos de treinamento específico, comparável ao Mestrado, que o autoriza a se tornar Professor de Mosteiro (Professor de Monges e Leigos). Pode, eventualmente, se tornar abade de um mosteiro.
Mestre (Jap. Dai-oshô 大和尚 ou Rôshi (老師)): Monge Titular que possui a graduação de jun-shike ou shike e que liderou um Período de Treinamento Intensivo (Kessei Ango 結制安居) durante o qual atuou como Professor da Bandeira do Darma (Hôdôshi 法幢師) numa Cerimônia de Combate do Darma (Hôsenshiki 法戦式). Para o uso público deste título, deve haver a ratificação do mesmo pelo Soto Shu.
Nota: Apesar do fato que existem casos (principalmente nos Estados Unidos) onde o título de “rôshi” vem sendo concedido até por simples “tempo de serviço” ou idade, para evitar a banalização do título, o ideal seria de manter o conceito original do uso público deste título somente para um mestre que tenha recebido este título pelo Soto Shu, que possui a graduação de shike ou jun-shike e que já tenha formado pelo menos um sucessor com a Transmissão de Darma e autorização de ensinar (que seja um mestre que “deu nascimento” a um novo Professor de Darma).
O título máximo, de Mestre Zen (Jap. Zenji), é reservado exclusivamente aos Abades Superiores dos mosteiros sede no Japão (Eiheiji e Sôjiji).
Sokai (Graduação como Monge – Professor de Darma):
Os primeiros degraus da carreira como Professor de Darma (Kyôshi 教師) podem ser comparados com a carreira acadêmica aproximadamente da seguinte forma, em acordo com a duração do treinamento em mosteiro oficialmente reconhecido como mosteiro de treinamento:
Instrutor, 2ª Classe (Nitô-kyôshi-ho)
Instrutor, 1ª Classe (Ittô-kyôshi-ho)
Professor Associado, 3ª Classe (Santô-kyôshi, 三等教師)
Professor Associado, 2ª Classe (Nitô-kyôshi, 二等教師 )
Professor Associado, 1ª Classe (Ittô-kyôshi, 一等教師)
Professor Pleno (Sei-kyôshi, 正教師)
A partir daí, há várias outras graduações, dependendo da prática, dos cursos, atuação na Sanga, recomendações dos superiores e aprovação pelo Soto Shu.
. Jun-shike (Professor-Mestre Associado – qualificado para ser reconhecido como “roshi”, se houver tal recomendação aprovada)
. Shike (Professor-Mestre)
. Gon-dai-kyôshi
. Dai-kyôshi (limitado a um número máximo de 180 monges. A Aoyama Roshi, abadessa do mosteiro feminino de Nagoya onde a Monja Coen e eu treinamos, é a primeira monja na história do Soto Shu a alcançar esta graduação.)
. Gon-dai-kyôjô (limitado a um número máximo de 30 monges)
. Dai-kyôjô (os abades superiores dos dois templos-sede, Eihei-ji e Sôji-ji)
Ainda existe o Kokusai Fukyôshi (国際布教師) – Professor de Darma de Propagação Internacional, geralmente traduzido como Missionário. Este título – com suas responsabilidades – pode ser concedido para Professores de Darma que atuam fora do Japão, em reconhecimento de seu treinamento e trabalho realizado. O candidato deve ser recomendado por algum mestre e sua nomeação depende da aprovação no Soto Shu, eventualmente com a necessidade de entrevistas nos escritórios centrais.
Nota: “Monge” ou “Monja” são exclusivamente pessoas que já completaram o seu treinamento e receberam Transmissão de Darma (Rikishô ou Oshô) ou que estão atualmente passando pela fase de treinamento de Monge-aprendiz (Zagen). Apesar de ser uma prática bastante comum aqui no Brasil, não seria correto um noviço (jôza) ou noviço-líder (shuso) ser chamado de monge, para não confundir o público em geral, que acaba interpretando o título como significando “plenamente formado”. Os nossos preceitos nos proíbem de nos apresentar, direta ou indiretamente, como sendo “mais” do que realmente somos (preceitos secundários do Sutra da Rede de Brama).
“Sensei” (先生) ou Kyôshi (教師) é um título exclusivo aos Monges que receberam Transmissão de Darma, completaram a sua prática num mosteiro ofical de treinamento necessária para a autorização como Professor de Darma e passaram pelas cerimônias formais de Zuise, 瑞世, nos templos Eiheiji e Sôjiji).
“Rôshi”(老師), também chamado formalmente de “Dai-oshô” (大和尚): O candidata ao título de Roshi deve possuir a graduação de Jun-shike ou Shike. É necessário que haja a recomendação de um Rôshi e a aprovação pelo Soto Shu para que seja oficialmente reconhecido como digno de ser assim chamado em público.
Este é um títulos reservado àqueles Monges Titulares Abades (Jûshoku 住職) de seus templos que tenham demonstrado, por sua prática e empenho, o seu merecimento como Professor do Darma, geralmente através da formação de monges até a Transmissão de Darma. Na tradição Soto, passe-se a este grau após liderar um Kessei Ango (結制安居) com Cerimônia de Combate do Darma.
Nota: Na tradição Rinzai, quando o Monge conclui o estudo sistemático de koans, ele recebe “Inka” (aprovação como professor do Darma) e passa a ser chamado de “Rôshi”.
Como resultado, há vários monges nos Estados Unidos que, apesar de pertencerem oficialmente à escola Soto Shu (cujo sistema é diferente), receberam o título de Roshi por terem completado o estudo de koans da escola Rinzai. Ainda nos Estados Unidos, existe até um sistema de reconhecimento como Roshi “por tempo de formação plena”, que independe da realização como professor de darma, algo que, ao meu crer, chega a banalizar o título.
Nestes casos, como estes monges ou monjas não possuem as graduações de Shike ou de Jun-shike, estes títulos NÃO são reconhecidos pela escola Soto Shu, que não autoriza o seu uso em público. São poucos os que são reconhecidos pelo Soto Shu.
Nota: Mais um termo que pode ser encontrado é Dôchô (pronunciado dootchoo), que significa “chefe do local de prática”. Por exemplo, muitas pessoas chamavam a Aoyama Roshi pelo título “Dôchô Rôshi” (pronúnciado dootchoo rooshi).
Nota: Na categoria de Membros Leigos podem ser feitas inclusões e/ou alterações, conforme as necessidades da Sanga. Na ordem de treinamento monástico, porém, não pode haver alterações, exceto as orientadas pela sede da Soto Shu no Japão.
Nota: No Brasil, existem somente 5 templos (ji ou otera) Soto Shu oficialmente reconhecidos.
São: Busshinji (SP), Zengen-ji (Mogi das Cruzes, SP), Tokozan Busshin-ji (Rolândia, PR), Zenkô-ji (Morro da Vargem, Ibiraçu, ES) e Enkô-ji (Itapecerica da Serra, SP).
Os outros grupos são considerados como sendo não-oficiais, sejam templos, mosteiros ou centros de prática (zendô). No momento (agosto 2011), dos grupos “não-oficiais”, somente Tenzui-ji (Zendo Brasil, SP) é um templo liderado por uma monja plenamente formada e missionária (Monja Coen), devidamente “instalada” como abadessa através da cerimônia “shinsan shiki”.
Mais ainda, no Brasil e vários países sul-americanos, poucos dos templos ou centros de prática (zendô) são liderados por monges ou monjas plenamente formados (oshô ou rikishô). A grande maioria destes centros de prática são coordenados por noviços (jôza), por monges-aprendizes (zagen) ou por praticantes leigos.
O Templo Busshinji está se tornando um centro de treinamento oficial mas não há nenhum mosteiro de treinamento oficialmente reconhecido no Brasil (ou no Ocidente).
Segue a orientação dada pelo Saikawa Roshi, Superintendente Geral da Escola Soto Zen na América do Sul, ao final da (re)ordenação monástica do chileno Meiyô Vargas realizada durante o Retiro Aberto em Florianópolis no dia 17 de outubro de 2008:
“O Caminho de Buda é um caminho. Analisar este caminho e tomar decisões seria acreditar, compreender, praticar, realizar e aplicar.
“Primeiro, temos que acreditar no Caminho de Buda. Em seguida, precisamos compreender em que direção andar e praticar, de acordo com esta compreensão. Você precisa realmente chegar a enxergar o seu Verdadeiro Eu, sua Verdadeira Natureza. Então, você aplicará isto na sua vida diária.
“No início, você praticará em benefício próprio. Mas, se você realizar o Caminho, ou Alcançar o Despertar, você terá que trabalhar 24 horas por dia para salvar os outros – do mesmo jeito como foi a vida de Shakyamuni Buda.
“Então, a vida de um “Shukke”, de um monge – alguém que deixou o lar – é muito, muito diferente. Viver neste mundo dualista e transmitir os ensinamentos do Darma da Unidade do Todo é uma coisa muito difícil – é difícil fazer as pessoas entender. Mas, para dar Paz e Harmonia, você terá que doar a sua vida aos outros.
“Como você desejou ser monge, você mostrou para mim a sua grande determinação. Devo lhe dar os meus parabéns – ou não?”
– escrito em novembro, 2005
– revisado e atualizado em julho, 2013
. Ler mais:
– Formação de um monge Soto Zen
– Qual o significado de Kokusai Fukyôshi (Missionário Internacional)?
– Qual o significado de Kyôshi (Professor de Darma)?
– Qual o significado de Zuise (Debut)?
– Qual o significado de Denpô (Transmissão de Darma)?
– Qual o significado de Hôkei (Linhagem no Darma)?
– Qual o Significado de Hossenshiki (Combate de Darma)?
– Qual o Significado de Shuso (Líder dos Noviços)?
– Qual o Significado de Unsui (2)?
– Qual o Significado de Unsui (1)?
– Qual o Significado de Shukke Tokudo?
– Ordenação Monástica
– Ordenação Unsui em Florianópolis
– Qual o Significado de Jukai?
– Os Preceitos
Ordenação Monástica: Yakuhô Felisberto
outubro 3, 2017 às 11:09 am | Publicado em Blogroll, Eventos, Meditação em Porto Alegre, Prática Zen Budista, Professor de Darma Zen Budista, Zen Budismo em Porto Alegre | Deixe um comentárioTags: ordenação monástica
No dia 7 de maio de 2017, a jovem Thalita Felisberto recebeu a ordenação monástica (Shukke Tokudo) no Jisui Zendô, iniciando, assim, a sua caminhada como monja em treinamento (Unsui) na graduação de noviça (Jôza). Thalita recebeu o Nome de Darma (Hômyô) de Yakuhô, que significa “Tradutora do Darma”.
É uma cerimônia forte, que pode causar fortes emoções no aluno (e talvez até no professor também), e que, não infrequentemente, provoca reações físicas no aluno, como tontura ou baixadas na pressão arterial. Cria uma relação cármica especial entre o professor (師匠, shisho) e o aluno (弟子, deshi). É o Professor de Ordenação (受業師, Jugoushi) que abre as portas para a caminhada do novo monástico e o orienta nas diferentes etapas de seu treinamento.
Futuramente, o aluno terá ainda os Professores de Combate de Darma, ou Hossenshiki ( 法幢師, Houdoushi), e de Transmissão de Darma, ou Professor-Raiz ( 本師, Honshi), que podem ser os mesmos que o Professor de Ordenação ou outros. Mesmo sendo outros, é sempre o Professor de Ordenação que supervisiona e assina os documentos que autorizam os próximos passos. Desta forma, o ideal é que o relacionamento entre eles seja sempre baseado em responsabilidade, por parte do Professor de Ordenação, e em gratidão e respeito, por parte do aluno.
O treinamento monástico do Zen é longo e rigoroso, pois a prática do Zen Budismo – tanto para leigos quanto para monásticos – busca levar o praticante a uma profunda autotransformação e libertação do ciclo de samsara. Um aspecto importante desta libertação é a desconstrução dos condicionamentos e dualidades que aprendemos nas nossas vidas – outras “cabeças” que colocamos por cima de nossas próprias cabeças, como descrito no Zen. A prática procura desenvolver no praticante a uma “apreciação plena, realização completa de ser si mesmo”, nas palavras do Mestre Zen Taizan Maezumi, fundador do Centro Zen de Los Angeles. Ele continua: “Se você colocar outra cabeça por cima de sua própria, você se tornará uma monstruosidade, mesmo que seja uma cabeça de Buda!”.
No Japão, o treinamento do monástico é um processo que dura de cinco a dez anos, mas no Ocidente pode levar até 30 anos. Muitos noviços ocidentais, por vários motivos, não chegam à Transmissão de Darma ou a receber a autorização oficial de Sensei (Professor de Darma).
Então, vamos oferecer o nosso apoio e torcer para que a Yakuhô-san possa se manter firme na prática do Zen, no seu treinamento monástico e no Caminho de Buda. Que ela possa se libertar das “outras cabeças” que criaram seus condicionamentos no passado e passe a manifestar livremente a sua verdadeira essência, sua Natureza Buda – sua verdadeira “cabeça”, para o benefício de todos os seres!
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Ler mais:
– A Ordem Monástica da Escola Soto Shu
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– Qual o Significado de Unsui (2)?
– Qual o Significado de Unsui (1)?
– Qual o Significado de Shukke Tokudo?
– Ordenação Monástica
– Ordenação Unsui em Florianópolis
– Qual o Significado de Hômyô (Nome de Darma)?
– Qual o Significado de Jukai (Transmissão dos Preceitos)?
– Os Preceitos do Bodisatva
Qual o Significado de Shukke Tokudo (Ordenação Monástica)?
outubro 31, 2008 às 3:17 pm | Publicado em Blogroll, Meditação em Porto Alegre, Prática Zen Budista, Preceitos Budistas, Qual o Significado, Vídeo, Zen Budismo em Porto Alegre | 2 ComentáriosTags: cerimônias zen budistas
A Cerimônia da Ordenação Monástica Soto Zen, Shukke Tokudo (出家得度), representa o momento quando um praticante leigo torna-se monge-noviço ou monja-noviça (Jôza 上座) e entra na primeira fase de seu treinamento, se preparando para cumprir o papel social de sacerdote.
Mas qual o significado de Shukke Tokudo? Para que alguém torna-se monge?
Os ideogramas chineses (kanjis) para “tokudo” (得度) significam “obter a travessia”, ou “entrar no caminho para a outra margem” – a travessia para a outra margem, que é a Iluminação, e os kanjis para “shukke” (出家) significam “sair do lar”. Assim, “shukke tokudo” significa “obter a travessia, saindo do lar, deixando os laços familiares”, enquanto que o “zaike tokudo” significa “obter a travessia, ficando no lar”.
Representa uma mudança na prioridade da vida do indivíduo. E qual é esta nova prioridade?
Tenho ouvido muitas pessoas afirmarem que a prioridade do monge deve ser o “servir os outros” ou “servir o Darma”. Tenho visto muitas pessoas buscarem a ordenação “para se tornar alguém”, “para ganhar um título, uma posição social”, “para salvar pessoas”. Tudo isto pode ser muito bonito – e certamente não diria que estaria completamente errado. Mas, se ao iniciar o caminho, o novo monge-noviço pensa demais em “servir os outros”, ele corre o risco de perder o foco correto e desviar a sua prática, por estar assumindo responsabilidades demais e envolvendo-se com tentativas de “servir os outros” cedo demais, antes de realmente estar corretamente preparado para isto. Neste processo, desvia a atenção do seu interior e da busca da realização de sua Natureza Buda. Pode até acabar usando os ensinamentos budistas, mal-interpretados, para justificar e reforçar comportamentos neuróticos. Quantos bons candidatos acabam se perdendo nos jogos do ego condicionado nestas horas.
Quando pesquisamos os sutras clássicos e os ensinamentos de Mestre Dogen, a mensagem é muito clara: nós nos ordenamos monges para buscar a nossa própria iluminação, por um caminho mais fácil que o caminho do praticante leigo, com as suas preocupações com a família e o trabalho profissional. A iluminação é a prioridade do monge-noviço. Isto é verdade, mesmo na tradição Mahayana, com os Quatro Votos dos Bodisatva – servir e libertar os outros vem depois – depois que tenhamos atingidos algum nível de realização, depois da nossa própria libertação (mesmo que parcial), depois que tenhamos condições de servir os outros com Sabedoria e Compaixão – e a confirmação deste fato por parte dos nossos professores. Primeiro, temos que nos preparar adequadamente.
Portanto, ao receber a ordenação, o candidato torna-se um noviço – um monge-noviço, um estudante – um estudante do Darma, cultivando sua própria iluminação. Em japonês, é chamado de “unsui“, o que corresponde aproximadamente ao “sekha” (pali) dos sutras clássicos de Buda e tradição Teravada atual. Ao “deixar o lar”, a sua prioridade não é mais sua família, suas amizades, sua casa, seu trabalho profissional – a sua prioridade absoluta é o cultivo de sua própria mente, sua própria realização do Caminho. Isto é o significado de tornar-se monge-noviço (ou monja-noviça). Não significa, se for casado, que tenha que abandonar o casamento, mas significa, sim, que deve assumir a mudança de prioridade – por isso, na cerimônia de ordenação, são feitas reverências aos pais e familiares, se “despedindo”. Veste agora o manto preto do monge-em-treinamento (o “kesa” preto do “unsui”).
Nas condições ideais, ao receber a ordenação, o monge-noviço entra na fase do treinamento de “calar a boca e limpar o chão”, um período onde é permitido muito pouco contato com o público em geral (quanto menos “aparecer”, melhor) e todo o seu esforço é canalizado em sentar em zazen, praticar o samu (trabalho ou atividade diária) e observar, escutar, perceber – aprender com o corpo e o coração. É o tempo de aprender a fluir, como “unsui” – nuvem-água – que vai onde o vento o leva e se adapta a qualquer recipiente. Para nós ocidentais, se pudermos fazer parte de nosso treinamento num mosteiro oficialmente reconhecido como mosteiro de treinamento, este também pode ser um tempo incrível de aprender a ser simplesmente parte de um grupo – integrado com o grupo – sem qualquer aspecto de querer “ser especial” ou de “ser diferente” – algo quase inconcebível depois de todo o nosso condicionamento cultivando a nossa “individualidade”.
Este treinamento deve ser feito em íntimo convívio com o professor. Isto é a tradição, desde a época de Buda. Na tradição Teravada, o noviço deve morar junto com o seu professor durante um mínimo de cinco anos e, na tradição Soto Zen, não é muito diferente. Infelizmente, aqui no Ocidente, temos muitos noviços que raramente têm a oportunidades de passar mais que alguns poucos dias periodicamente na convivência direta com os seus professores. Isto é uma coisa triste, pois, muitos destes noviços, apesar de toda a sua boa vontade e esforço, acabam desenvolvendo uma espécie de “Budismo-achismo”, baseado mais nas suas próprias interpretações de livros que na prática real e na transmissão dos ensinamentos diretamente de um professor de carne e osso. Tenho encontrado versões de “budismo-hippie”, “budismo-nova era”, “budismo-espirita”…
Tudo isto faz parte da transmissão de uma cultura para outra – quando olhamos a história do budismo, vemos que o processo da transmissão dos ensinamentos da Índia para a China também passou por muitas dificuldades e levou séculos – sim, séculos – para o Budismo se enraizar, se adaptar à nova cultura, e para ficarem clarificadas as distinções entre o Budismo e as religiões-filosofias nativas chinesas, o Taoismo e o Confucionismo. Aqui no Brasil, estamos muito no começo deste processo. Vamos passar por nossas dificuldades, mal-entendidos e confusões. Mas, desde que haja uma única pessoa que tenha compreendido o Darma para continuar a transmissão (e já temos várias pessoas com essa compreensão aqui no Brasil!), o Budismo continuará a crescer no país do verde e amarelo.
Segue a orientação dada pelo Saikawa Roshi, Superintendente Geral da Escola Soto Zen na América do Sul, ao final da (re)ordenação monástica do chileno Meiyô Vargas realizada durante o Retiro Aberto em Florianópolis no dia 17 de outubro de 2008:
“O Caminho de Buda é um caminho. Analisar este caminho e tomar decisões seria acreditar, compreender, praticar, realizar e aplicar.
“Primeiro, temos que acreditar no Caminho de Buda. Em seguida, precisamos compreender em que direção andar e praticar, de acordo com esta compreensão. Você precisa realmente chegar a enxergar o seu Verdadeiro Eu, sua Verdadeira Natureza. Então, você aplicará isto na sua vida diária.
“No início, você praticará em benefício próprio. Mas, se você realizar o Caminho, ou Alcançar o Despertar, você terá que trabalhar 24 horas por dia para salvar os outros – do mesmo jeito como foi a vida de Shakyamuni Buda.
“Então, a vida de um “Shukke”, de um monge – alguém que deixou o lar – é muito, muito diferente. Viver neste mundo dualista e transmitir os ensinamentos do Darma da Unidade do Todo é uma coisa muito difícil – é difícil fazer as pessoas entender. Mas, para dar Paz e Harmonia, você terá que doar a sua vida aos outros.
“Como você desejou ser monge, você mostrou para mim a sua grande determinação. Devo lhe dar os meus parabéns – ou não?”
. Assistir o vídeo de uma cerimônia de Ordenação Monástica no Japão (em japonês), mostrando o momento em que o Professor de Ordenação, representando o próprio Buda, raspa a parte final do cabelo do candidato – chamado de “shura” – que somente um Buda pode raspar.
Ler mais:
– A Ordem Monástica da Escola Soto Shu
– Formação de um monge Soto Zen
– Qual o significado de Kokusai Fukyôshi (Missionário Internacional)?
– Qual o significado de Zuise (Debut)?
– Qual o significado de Denpô (Transmissão de Darma)?
– Qual o significado de Hôkei (Linhagem no Darma)?
– Qual o Significado de Hossenshiki (Combate de Darma)?
– Qual o Significado de Shuso (Líder dos Noviços)?
– Qual o Significado de Unsui (2)?
– Qual o Significado de Unsui (1)?
– Qual o Significado de Shukke Tokudo?
– Ordenação Monástica
– Ordenação Unsui em Florianópolis
– Qual o Significado de Jukai?
– Os Preceitos do Bodisatva
Este artigo em espanhol no blog Mas que Palabras
Ordenação Monástica
outubro 19, 2007 às 4:09 pm | Publicado em Blogroll, Meditação em Porto Alegre, Prática Zen Budista, Preceitos Budistas, Zen Budismo em Porto Alegre | 2 ComentáriosRecentemente, ganhei três novos Irmãos do Darma. A minha família monástica cresceu, pois “nasceram” três “bebês-buda”. Dorin Bresser, Dengaku Bandeira e Waho Degenszajn. Que felicidade! Quão auspicioso para o futuro do Zen Budismo no Brasil! Qual o significado dessa Ordenação Monástica?
Fizeram os votos de dedicar suas vidas ao serviço do Darma, à prática Zen Budista, ao cultivo da Iluminação, da Paz e Tranqüilidade, da Sabedoria e Compaixão. Fizeram os votos de servir a Comunidade, de renunciar os interesses próprios, de orientar suas vidas de acordo com os Preceitos do Bodisatva, de treinar sob a orientação da professora de ordenação, a Monja Coen. Deixaram de ser praticantes leigos e tornaram-se noviços, monges-noviços. Passaram pela cerimônia chamado “shukke tokudo”. “Shukke” significa ‘sair de casa’ e “tokudo” significa ‘alcançar o Caminho’, ‘entrar no caminho para a outra margem’, ‘obter a travessia’, ‘confrontar a “Grande Questão do Nascimento e Morte”‘. Renovaram os Votos de Bodisatva que fizeram na cerimônia de Transmissão dos Preceitos para Leigos, agora como monges-noviços.
Tornaram-se “unsui” no nível de “jôza” (noviço) (unsui: 雲水, “nuvem-água” – indo e vindo com a leveza da nuvem sem estar preso a nada ou ninguém com a fluidez da água que se adapta a qualquer recipiente mas que tem a força de vencer qualquer rocha. Como ‘unsui’ (monge-em-treinamento) devem passar pelas etapas de monge-noviço (jôza), líder dos noviços (shuso, fazendo Hossenshiki – Combate ao Darma) e monge-aprendiz (zagen), até se formarem como monge (oshô, recebendo Shihô, Transmissão do Darma).
Estão iniciando uma caminhada longa. Não é fácil o confronto consigo mesmo. Não é fácil liberta-se do ego e das opiniões. Não é fácil o treinamento de mosteiro. Pode ser que passem por momentos de grande solidão, que atravessam a ‘noite escura da alma’.
Mesmo assim, é uma caminhada maravilhosa, que vem sendo trilhada por monges e monjas há 2.600 anos – o Caminho da Libertação.
Como em toda família, às vezes os irmãos briguem entre si. Mas nem por isso deixam de sentir amor um pelo outro. Espero que, em nossa família, possamos ter poucas brigas, muita paz e muita alegria.
Quero que esses, meus irmãos mais novos, saibam que podem sempre contar comigo. Farei tudo para ser uma boa “sempai”.
Nota: para mais informações sobre a prática Leiga e a Ordem Monástica de nossa escola, veja a reprodução deste texto do antigo site do Zendo Brasil: A Ordem Monástica da Escola Soto Shu.
Veja fotos da Ordenação da Monja Wahô (do site Zendo Brasil)
Com os meus votos de grande harmonia e paz.
Segue a orientação dada pelo Saikawa Roshi, Superintendente Geral da Escola Soto Zen na América do Sul, ao final da (re)ordenação monástica do chileno Meiyô Vargas realizada durante o Retiro Aberto em Florianópolis no dia 17 de outubro de 2008:
“O Caminho de Buda é um caminho. Analisar este caminho e tomar decisões seria acreditar, compreender, praticar, realizar e aplicar.
“Primeiro, temos que acreditar no Caminho de Buda. Em seguida, precisamos compreender em que direção andar e praticar, de acordo com esta compreensão. Você precisa realmente chegar a enxergar o seu Verdadeiro Eu, sua Verdadeira Natureza. Então, você aplicará isto na sua vida diária.
“No início, você praticará em benefício próprio. Mas, se você realizar o Caminho, ou Alcançar o Despertar, você terá que trabalhar 24 horas por dia para salvar os outros – do mesmo jeito como foi a vida de Shakyamuni Buda.
“Então, a vida de um “Shukke”, de um monge – alguém que deixou o lar – é muito, muito diferente. Viver neste mundo dualista e transmitir os ensinamentos do Darma da Unidade do Todo é uma coisa muito difícil – é difícil fazer as pessoas entender. Mas, para dar Paz e Harmonia, você terá que doar a sua vida aos outros.
“Como você desejou ser monge, você mostrou para mim a sua grande determinação. Devo lhe dar os meus parabéns – ou não?”
Gassho
Ler mais:
– A Ordem Monástica da Escola Soto Shu
– Formação de um monge Soto Zen
– Qual o significado de Kokusai Fukyôshi (Missionário Internacional)?
– Qual o significado de Zuise (Debut)?
– Qual o significado de Denpô (Transmissão de Darma)?
– Qual o significado de Hôkei (Linhagem no Darma)?
– Qual o Significado de Hossenshiki (Combate de Darma)?
– Qual o Significado de Shuso (Líder dos Noviços)?
– Qual o Significado de Unsui (2)?
– Qual o Significado de Unsui (1)?
– Qual o Significado de Shukke Tokudo?
– Ordenação Monástica
– Ordenação Unsui em Florianópolis
– Qual o Significado de Jukai?
– Os Preceitos do Bodisatva
Qual o significado de Kokusai Fukyôshi (Missionário Internacional)?
agosto 27, 2013 às 2:47 pm | Publicado em Meditação em Porto Alegre, Professor de Darma Zen Budista, Qual o Significado, Uncategorized, Zen Budismo em Porto Alegre | 17 ComentáriosOs monges japoneses que são destacados para trabalhar na divulgação do Soto Zen fora do Japão (no Brasil, Europa, Estados Unidos, etc) recebem o título de Kokusai Fukyôshi (国際布教師, Missionário Internacional).
Monges ocidentais que realizam treinamento oficial em mosteiros japoneses, podem também chegar a serem indicados para esta função. Ao serem aprovados, tornam-se representantes oficiais da Escola Soto Zen japonês, com a responsabilidade de transmitir os ensinamentos de Buda e da prática do Soto Zen tradicional no Ocidente.
Junto com o Monge Denshô Quintero (Comunidade Soto Zen de Colombia), fui honrada com este título durante o encontro dos Missionários Internacionais como parte das Comemorações dos 110 Anos do Soto Zen na América do Sul que foram realizadas nos dias 24 a 26 de agosto no Peru. Os outros Missionários Internacionais sul-americanos (ocidentais) são (por ordem de senioridade): Daiju Bitti Sensei (Mosteiro Zen Morro da Vargem,- Ibiraçu, ES). Coen de Souza Sensei (Zendo Brasil – Tenzui Zendô, São Paulo, SP) e Enjo Stahel Sensei (Templo Taikanji, Pedra Bela, SP). Também contamos com vários missionários internacionais japoneses.
Agradeço todos os meus professores de Darma: Monja Coen (minha professora de ordenação); Shundô Aoyama Roshi (abadessa do mosteiro feminino de Nagoya, Japão e minha professora de treinamento e Combate de Darma); Shûki Onoda Roshi (meu professor de Transmissão de Darma); Naoji Kanou Oshô (que me ofereceu apoio valioso no Japão); Dôshô Saikawa Sôkan Roshi (que me concede apoio e orientação inestimável aqui no Brasil); e ainda, todos os professores de budismo e da vida que tenho encontrado durante a minha jornada. Finalmente, agradeço todos os membros da Sanga Águas da Compaixão – Jisui Zendô pelo seu empenho e prática durante estes anos de caminhada juntos.
– Sensei
– A Ordem Monástica da Escola Soto Shu
– Formação de um monge Soto Zen
– Qual o significado de Kyôshi (Professor de Darma)?
– Qual o significado de Zuise (Debut)?
– Qual o significado de Denpô (Transmissão de Darma)?
– Qual o significado de Hôkei (Linhagem no Darma)?
– Qual o Significado de Hossenshiki (Combate de Darma)?
– Qual o Significado de Shuso (Líder dos Noviços)?
– Qual o significado de Unsui? (2)
– Qual o significado de Unsui? (1)
– Qual o Significado de Shukke Tokudo (Ordenação Monástica)?
– Ordenação Monástica
– Ordenação Unsui em Florianópolis
– Qual o Significado de Jukai (Transmissão dos Preceitos)?
– Os Preceitos do Bodisatva
Qual o significado de Unsui? (2 – Ordenação de Fernando Ryûshin)
julho 26, 2013 às 11:46 am | Publicado em Meditação em Porto Alegre, Prática Zen Budista, Professor de Darma Zen Budista, Qual o Significado, Zen Budismo em Porto Alegre | 3 ComentáriosCom a ordenação monástica (Shukke Tokudo), o praticante de zen torna-se um unsui (雲水, nuvem-água), na graduação de jôza (上座, noviço). Continua sendo um unsui mesmo quando alcança as graduações de shuso (首座, líder dos noviços) e zagen (座元, monge-aprendiz), pois continua em treinamento. Só deixa de ser unsui ao receber a Transmissão de Darma, quando torna-se rikishô (力生, antes das cerimônias de zuise), oshô (和尚, depois das cerimônias de zuise) e, finalmente, kyôshi (教師, sensei, 先生 – professor de darma), quando tenha completado a sua prática em mosteiro de treinamento oficial). Na escola Soto Zen, somente assim que receber a sua licença de kyôshi, com uma graduação de acordo com a duração de seu treinamento em mosteiro oficialmente reconhecido, é que poderá ter os seus próprios alunos e registrar ordenações de novos noviços (futuros monges).
Nem todos que recebem a ordenação chegam a completar esta jornada longa e alguns trocam de professor(a) durante o seu treinamento, recebendo a Transmissão de Darma com um mestre diferente de seu mestre de ordenação. Normalmente, é mantido a gratidão e consideração pelo mestre de ordenação (jugoushi 受業師), mas o mestre de Transmissão de Darma é considerado o Professor-Raiz (honshi 本師) e o novo rikishô passa a pertencer à linhagem de seu professor-raiz.
Apesar do fato que não seria totalmente errado, tecnicamente falando, chamar um unsui de “monge”, na minha linhagem isto não é aceito. Há dois motivos principais para isto, dos quais o principal deve-se ao fato que, na nossa cultura como um país predominantemente católico, as pessoas desinformadas acabam interpretando o título como significando que estariam tratando se de um monge já formado e plenamente capacitado a dar ensinamentos. Assim, acabam tratando o unsui, não como um estudante-futuro-monge, mas como um líder a ser respeitado e ouvido.
Apresentar-se como “mais do que é”, mesmo acidentalmente, e permitir que outros o enxerguem como “mais do que é” representa uma violação dos Preceitos do Bodisatva (Preceitos Secundários). Mais ainda, temos visto alunos ficarem sutil, mas gravemente prejudicados na sua própria prática, com os egos inflados, vestindo a “persona de monge” em lugar de aprendendo a reconhecer o ego e sua movimentação, domesticá-lo e desenvolver-se nesta prática da manifestação da essência do ser, até tornar-se “monge livre do ego condicionado” – o que para nós, seria um monge de verdade.
No dia 8 de abril de 2011, tendo terminado todas as formalidades de formação como Professora de Darma (Sensei), dei ordenação monástica para o Fernando Ryûshin Sedano – sem saber, porém que os documentos não haviam sido devidamente registrados ainda nos escritórios centrais da nossa escola e, consequentemente, a minha “licença” oficial como professora de darma não havia sido outorgada. Foi uma questão de burocracia institucional. Com isto, não pude registrar a sua ordenação na sede da nossa escola e ela passou a ser uma ordenação “extra-oficial”, não-reconhecida oficialmente.
Apesar de ter acontecido uma demora, dificultado mais um pouco pela barreira de língua e a distância, com a ajuda do Mestre Saikawa Roshi, o nosso superintendente para América do Sul, tudo ficou devidamente registrado e a minha “licença” como kyôshi (sensei) chegou, com a autorização de registrar oficialmente a ordenação de novos unsui.
Independentemente da falta de seu registro oficial na época, já vinha fazendo o meu melhor para treinar ele como jôza (noviço) – e vejo que ele tem feito o seu melhor para aprender como um jôza desde 2011. Recentemente, participou do retiro de treinamento de monges no Zendo Brasil, sob a orientação da Monja Coen (a minha professora de ordenação), a quem devo profundos agradecimentos.
Para fins de registro oficial na escola Soto Shu, o Fernando Ryûshin Sedano recebeu re-ordenação no dia 18 de julho. O nome de darma “Ryûshin” significa “coração de dragão”. Tradição japonesa nos diz que o salmão – que sobe a montanha contra a correnteza – torna-se um dragão ao chegar no topo. Mais ainda, é o dragão que carrega a Kannon, Bodisatva da Compaixão.
Que Ryûshin-san possa crescer no Darma, me superar, realizar o Caminho de Buda e
levar as Águas da Compaixão a todos os seres, carregado pelo seu dragão…
.
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– Sensei
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– Ordenação Unsui em Florianópolis
– Qual o Significado de Jukai (Transmissão dos Preceitos)?
– Os Preceitos do Bodisatva
Qual o significado de Unsui? (1)
julho 22, 2013 às 6:17 pm | Publicado em Blogroll, Meditação em Porto Alegre, Prática Zen Budista, Qual o Significado, Zen Budismo em Porto Alegre | 1 ComentárioHistoricamente, o termo unsui (雲水, nuvem-água) refere-se a um noviço ou monge-aprendiz que andava em peregrinação de um mestre a outro (angya 行脚), treinando, questionando e aprendendo. Naturalmente, ele tinha seu professor de ordenação, que supervisionava este processo e que, geralmente, indicava o próximo lugar onde o unsui devia ir praticar. O seu mestre de transmissão de darma, no fim, podia ser o seu mestre inicial de ordenação ou um outro mestre que ele chegou a encontrar durante sua peregrinação e com quem havia uma forte afinidade mútua.
Ouvi, recentemente, num podcast na Internet, um comentário de um norte-americano dizendo que um dos motivos de um suposto declínio no budismo japonês teria sido o fato que a maioria dos monges fazem quase todo o seu treinamento com um único professor, frequentemente o seu pai, não mantendo mais a tradição de angya, não mais fazendo peregrinação de um mestre para outro durante o seu treinamento.
Pessoalmente, não adiciono a minha voz a este tipo de crítica de uma suposta “degeneração” do budismo japonês, pois, como Ocidental, não me sinto qualificada para fazer tais julgamentos. Cada geração de religiosos tende a considerar a sua própria época como um período de “degeneração”, o que, para aquelas pessoas DENTRO de uma tradição ou cultura, pode representar uma crítica saudável – mas, acho que nós, Ocidentais, olhando do ponto de vista DE FORA (mesmo sendo Zen Budistas), não podemos falar em “degeneração” do budismo de um outro país/cultura. No máximo, podemos levantar questionamentos, mas não podemos impor os nossos valores e julgamentos ocidentais sobre as outras culturas.
Assistimos, sim, nos países “desenvolvidos” (incluindo o Japão), uma crescente secularização, com muitas pessoas abandonando a “religião”. Esta secularização não significa “degeneração”.
Tenho encontrado um bom número de monges e monjas japoneses – alguns deles “filhos de templo” (o pai é monge) – e, pessoalmente, não tenho visto esta tal de “degeneração”. Pelo contrário, tenho visto muita dedicação, boa vontade e desejo de servir à comunidade. Considerando o fato que um “monge” continua sendo um ser humano produto de sua própria cultura, sei que nem todos os monges são seres “iluminados” e alguns (poucos) nem são “bons monges”. Alguns poucos, como em qualquer religião ou país, se metem em encrenca e fazem coisas que não deviam fazer. Tenho certeza que são uma minoria absoluta – e, até hoje, não encontrei nenhum destes “monges ruins” japoneses. O próprio “sistema” institucional procura controlar e minimizar os desvios de conduta – e procura garantir um nível de qualidade de treinamento antes de dar o reconhecimento de formação como monge plenamente formado ou conceder licenciamento como Professor de Darma.
São poucos os ocidentais que conhecem como funciona o treinamento de um monge no Japão. O simples fato de ter treinando algum tempinho (três meses – a duração de um visto de turista, por exemplo) num mosteiro japonês não o qualifica para compreender o sistema, especialmente se não fala a língua.
Poucas pessoas sabem que a grande maioria dos monges japoneses possuem, além de seu treinamento monástico, formação universitária – frequentemente em Estudos Budistas. Um templo “comum” recebe as visitas de outros Professores de Darma – tanto para ministrar palestras quanto para que ajudem – ou até oficiem – nas cerimônias formais como Obon e O-higan. Assim, mesmo que treine com o pai, o unsui japonês tem muito contato com outros monges-professores do darma.
Mais ainda, os mosteiros de treinamento oficial precisam cumprir com determinados requisitos para serem reconhecidos oficialmente. Os requisitos incluem pontos como o número e graduação dos professores, o número mínimo de unsui em treinamento, o currículo do treinamento e as instalações físicas. Passam por inspeções regulares (não me esqueço de quando houve inspeção no mosteiro feminino onde treinei).
Lembro-me também que, durante o meu treinamento no Templo Busshinji de São Paulo, além da Monja Coen (minha professora de ordenação), havia outros professores qualificados – o Shozan Sensei e Tachibana Sensei e outros ‘sempais’ (veteranos). Aprendi com todos eles. Sou extremamente grata à Monja Coen por tudo que ela me ensinou – e também grata aos outros Professores de Darma que estavam lá me ensinando, no início da minha jornada.
No mosteiro, além da abadessa Aoyama Roshi, tivemos vários professoras e professores, algo entre 12 e 15 no total. Um grupo de cinco professoras – todas de linhagens diferentes – se revezavam em pernoitar conosco e, assim, podíamos conversar e trocar de ideias com elas.
Estas experiências me levaram a discordar com aquilo que vejo acontecendo muitas vezes aqui no ocidente, onde a grande maioria treina com somente um único professor de darma, ou num único local onde todos os professores são daquela mesma linhagem, sem experiência com professores de outras linhagens – ou até de outras escolas de budismo.
Por este motivo, resolvi procurar oferecer o máximo possível da experiência de angya aos meus alunos monásticos. Já temos por costume procurar sempre enviar praticantes da nossa Sanga para os retiros no Templo Busshinji, a nossa sede para América do Sul, atualmente com o Mestre Saikawa Roshi como Sokan (superintendente). Vejo que isto tem beneficiado e fortalecido a nossa sanga. Acredito que todas as sangas brasileiras deveriam cultivar este mesmo costume de enviar representantes para os retiros na sede brasileira da nossa escola, em lugar de se isolarem, independentes, separadas umas das outras, mas não posso mudar o mundo. No caso dos alunos monásticos, além das práticas no Busshinji, pretendo enviá-los para períodos de prática com os vários professores qualificados que temos neste país.
Assim, acabo de enviar o noviço Ryûshin-san para o retiro de treinamento da Monja Coen no Zendo Brasil, o que foi muito bom para ele – e, espero eu, também muito bom para o relacionamento entre as nossas sangas. Agradeço muito a acolhida que ele recebeu e mando lembranças para os meus amigos dos meus próprios tempos lá.
Só senti muito que houve conflito com as datas dos retiros do Zendo Brasil e do Busshinji, pois, desta forma, não pude enviar ele para o retiro de Busshinji também. Tão perto e tão longe – uma pena…
Deixo aqui registrado a minha profunda gratidão à Monja Coen por ter aceito ele como “neto no Darma” e pelo treinamento que ele pôde receber no Zendo Brasil. Também agradeço a Sanga do Zendo Brasil, seus sempais e monges-em-treinamento, muitos deles amigos meus do meu tempo de prática no Zendo Brasil, pela acolhida e solidariedade que ofereceram ao “primo”.
Ler: Qual o significado de Unsui (2)?
Ler mais:
– Sensei
– A Ordem Monástica da Escola Soto Shu
– Formação de um monge Soto Zen
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– Qual o Significado de Shuso (Líder dos Noviços)?
– Qual o Significado de Shukke Tokudo (Ordenação Monástica)?
– Ordenação Monástica
– Ordenação Unsui em Florianópolis
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– Os Preceitos do Bodisatva
Qual o significado de Kyôshi (Sensei, Professor de Darma)?
julho 16, 2013 às 12:28 pm | Publicado em Meditação em Porto Alegre, Prática Zen Budista, Professor de Darma Zen Budista, Qual o Significado | 17 Comentários
Tabela das Graduações Monásticas e de Kyôshi (fonte: website do Mosteiro Antaiji)
Na escola Soto Zen, o licenciamento oficial de um monge plenamente formado (Oshô) como Kyôshi 教師 (Professor de Darma) depende de dois fatores: a finalização da prática em mosteiro de treinamento oficialmente reconhecido e a realização das formalidades de Zuise 瑞世.
Atualmente o treinamento em mosteiro oficialmente reconhecido é possível somente no Japão ou, periodicamente, em ango especial organizado pelo Soto Shu nos Estudados Unidos ou Europa atualmente. Este treinamento em mosteiro pode ser realizado antes ou depois da Transmissão de Darma e Zuise 瑞世, mas é obrigatório para o reconhecimento oficial como Professor de Darma.
Ao ser aprovado, o novo Kyôshi recebe uma graduação de Professor de Darma baseado no seu tempo de treinamento em mosteiro oficial e diplomas acadêmicas.
Nesta hora, torna-se Professor de Darma e adquire o direito oficial de ser chamado de Sensei 先生. Mas só passa a poder ter os seus próprios alunos e oficiar cerimônias de Transmissão dos Preceitos Budistas para Leigos (Jukai), e de ordenações monásticas (Shukke Tokudo) se tiver uma graduação de Professor Associado 2ª Classe ou superior, quando também poderá solicitar a autorização para assumir a posição de Monge Titular (Jûshoku 住職) de um templo oficialmente reconhecido, se tal oportunidade se apresentar.
Os primeiros degraus da carreira como Professor de Darma (Kyôshi 教師) podem ser comparados com a carreira acadêmica aproximadamente da seguinte forma, em acordo com a duração do treinamento em mosteiro oficialmente reconhecido como mosteiro de treinamento:
Instrutor, 2ª Classe (Nitô-kyôshi-ho) – em desuso
Instrutor, 1ª Classe (Ittô-kyôshi-ho) – em desuso
Professor Associado, 3ª Classe (Santô-kyôshi, 三等教師) – Sensei, SEM autorização de ter seus próprios alunos – atua como um professor-assistente num templo sob a supervisão de um abade.
Professor Associado, 2ª Classe (Nitô-kyôshi, 二等教師 ) – Sensei, COM autorização de ter seus próprios alunos e ordenar novos monges, geralmente como monge-titular de um templo ou centro de prática.
Professor Associado, 1ª Classe (Ittô-kyôshi, 一等教師)
Professor Pleno (Sei-kyôshi, 正教師)
A partir daí, há várias outras graduações, dependendo da prática, dos cursos, atuação na Sanga, recomendações dos superiores e aprovação pelo Soto Shu.
. Jun-shike (Professor-Mestre Adjunto – qualificado para ser reconhecido como “roshi”, se houver tal recomendação aprovada)
. Shike (Professor-Mestre)
. Gon-dai-kyôshi
. Dai-kyôshi (limitado a um número máximo de 180 monges. A Aoyama Roshi, abadessa do mosteiro feminino de Nagoya onde a Monja Coen e eu treinamos, é a primeira monja na história do Soto Shu a ser elevada a esta graduação.)
. Gon-dai-kyôjô (limitado a um número máximo de 30 monges)
. Dai-kyôjô (os abades superiores dos dois templos-sede, Eihei-ji e Sôji-ji)
Ainda existe o Kokusai Fukyôshi (国 際布教師) – Professor de Darma de Propagação Internacional, geralmente traduzido como Missionário Internacional. Este título especial – com suas responsabilidades – pode ser concedido para Professores de Darma que atuam fora do Japão, em reconhecimento de seu treinamento e trabalho realizado. O candidato deve ser recomendado por um superior e sua nomeação depende da aprovação no Soto Shu, eventualmente com a necessidade de entrevistas nos escritórios centrais.
Nota: Existem grupos dissidentes, que se separaram da escola legalmente constituída Soto Shu tradicional, criando suas próprias ordens independentes. Duas destas organizações são Sanbô Kyôdan (fundado em 1954) e Zen Peacemakers (fundado em 1996). Estas organizações mantêm uma boa parte da “forma externa” e cerimonial Soto Shu mas acrescentaram o uso do sistema de koans da escola Rinzai. Suas regras são, de certa forma, bem mais liberais e menos rigorosas que as da Soto Shu. Admitam o reconhecimento de um “Sensei” (“Professor de Darma”) baseado somente na autorização do professor do candidato, sem necessidade de prática em mosteiro de treinamento oficial, e oferecem reconhecimento como “Mestre Zen” a leigos de todas as religiões (budismo, cristianismo, islamismo, judaísmo, etc).
Ler mais:
– Sensei
– A Ordem Monástica da Escola Soto Shu
– Formação de um monge Soto Zen
– Qual o significado de Kokusai Fukyôshi (Missionário Internacional)?
– Qual o significado de Zuise (Debut)?
– Qual o significado de Denpô (Transmissão de Darma)?
– Qual o significado de Hôkei (Linhagem no Darma)?
– Qual o Significado de Hossenshiki (Combate de Darma)?
– Qual o Significado de Shuso (Líder dos Noviços)?
– Qual o Significado de Unsui (2)?
– Qual o Significado de Unsui (1)?
– Qual o Significado de Shukke Tokudo (Ordenação Monástica)?
– Ordenação Monástica
– Ordenação Unsui em Florianópolis
– Qual o Significado de Jukai (Transmissão dos Preceitos)?
– Os Preceitos do Bodisatva
Ler também: What does it take to become a full-fledged Soto-shu priest? (em inglês)
. Part 1: Monk´s ordination, risshin and dharma combat
. Part 2: Ten points to keep in mind about dharma transmissio
. Part 3: Ten-e and some words about Zui-se
. Part 4: Zui-se – abbot for the night
. Part 5: Sessa-takuma – ango as life in a rock grinder
. Part 6: Muhô the Zen Nazi
Monge Seigen: Treinamento no Japão
março 18, 2012 às 9:45 pm | Publicado em Blogroll, Prática Zen Budista | Deixe um comentárioO Monge Seigen, “unsui”, ou monge-em-treinamento, no Templo Busshinji em São Paulo, viajará para o Japão no próximo mês para fazer o seu treinamento monástico durante um ano no mosteiro de Sojiji Soin em Ishikawa.
Para ajudar com as suas despesas, ele criou um site com suas magníficas fotos. Suas contribuições são muito importantes.
Podem ver as fotos na Galeria do seu site
Qual o significado de Zuise (Debut)?
novembro 28, 2011 às 4:40 pm | Publicado em Blogroll, Meditação em Porto Alegre, Prática Zen Budista, Professor de Darma Zen Budista, Qual o Significado, Zen Budismo em Porto Alegre | 2 ComentáriosDepois da Transmissão de Darma, o professor pode solicitar a autorização para enviar o seu aluno, o novo monge (agora na graduação de Rikishô) para se apresentar nos dois templos-sede da escola (Eiheiji e Sôjiji) para a realização de uma série de formalidades chamada Zuise (瑞世). Os caracteres chineses desta palavra atualmente significam “auspicioso” (zui) e “o mundo” (se), mas aparentemente esta palavra significava, antigamente, “receber promoção” ou “tomar um passo na carreira”.
Estas formalidades representam a oportunidade do monge recém-formado prestar homenagem e gratidão aos fundadores da nossa escola, Mestre Dogen (fundador do templo-mosteiro Eiheiji) e Mestre Keizan (fundador do templo-mosteiro Sôjiji).
Passa a possuir, agora, a graduação monástica de Oshô (和尚) e autorização de usar o kesa da côr saffrão (uma tonalidade de marrom dourada) e outros cores. Em princípio, o momento de oficiar cerimônias de recitação de sutras no papel de “abade por uma noite”, como parte das formalidades de Zuise em cada um dos dois templos-sede, Eiheiji (fundado pelo Mestre Dogen) e Sôjiji (fundado pelo Mestre Keizan) representa a primeira vez que veste os kesas “oficiais” do Soto Shu (um kesa vermelha com detalhes dourados no Sojiji e o kesa “mokuran” (safrão) no Eiheiji.
Na eventualidade do novo “oshô” ainda não ter completado o treinamento oficial em mosteiro reconhecido, não poderá ainda registrar alunos, dar ordenação monástica, oficiar cerimônia de transmissão dos preceitos leigos ou tornar-se abade (jûshoku) de um templo, apesar do fato de já poder realizar as outras funções de um sacerdote, como oficiar casamentos, batizados, benções em geral, enterros, e outras cerimônias religiosas. Ainda não é oficialmente um “Sensei“.
Se já tiver completado a sua prática em mosteiro oficial de treinamento, ao terminar as formalidades do zuise, poderá solicitar a autorização oficial como Professor de Darma (Sensei), com o seu nível de graduação como professor dependendo do seu tempo de prática em mosteiro de treinamento oficialmente reconhecido e formação acadêmica. Neste caso, estará habilitado a registras alunos, transmitir os preceitos para leigos (Zaike Tokudo ou Jukai) e ordenar novos monges (Shukke Tokudo), além de realizar todas as outras funções de um sacerdote. Neste momento, também poderá receber a autorização necessária para se tornar abade (Jûshoku 住職, Monge Titular) de um templo oficialmente reconhecido.
Na chegada ao templo-sede, na data marcada, é recebido por um atendente e convidado a usar chinelos vermelhos especiais de abade. Depois de tomar chá, recebe ensinamento sobre os procedimentos específicos do templo, uma vez que há detalhes na forma de oficiar cerimônias que são diferentes de um templo para outro. Terminado este ensaio, que pode levar três horas, recebe um jantar finíssimo, toma banho de o-furô (banheira japonesa) e dorme.
Levanta cedo no dia seguinte, às 03:30 hs e faz o início do zazen no “gaitan” (lado de fora do zendô) próximo à entrada do abade. Mas logo é chamado para o início das formalidades de Zuise.
Vai primeiro prestar homenagem ao fundador e primeiros abades do templo. Para isto, entra, talvez pela única vez na vida, numa área reservada, fechada, que fica atrás do altar da Sala dos Fundadores. Oferece incenso e faz uma série de prostrações.
Em seguida, vai para a sala de recepção do abade do templo-sede (Zenji), onde se encontra com um grupo de seis ou oito monges formados que tomarão parte do “ryôban”(as duas fileiras de monges na área cerimonial principal) para as cerimônias a seguir. Depois de fazer prostrações, ouve a leitura do certificado de Zuise e o recebe das mãos do Abade do templo-sede ou seu representante. Assim que o Abade saia da sala, recebe o chá honorário – primeiro é servida água doce com umeboshi (ameixa em conserva). Em seguida é servido um doce – mas em lugar de comer o doce agora, coloca-se o certificado que acabou de receber em cima do doce e o devolve. Imagino (mas não sei ao certo) que talvez este doce, com o certificado, vai para o altar durante as recitações de sutras que fazem parte das formalidades de Zuise. Termina esta etapa das formalidades com chá verde.
Nesta hora, o atendente traz o “nyoi” ( 如意, no Sojiji) ou o “hossu” (払子, no Eiheiji), cetros cerimoniais de oficiante. Acompanhado pelo grupo de monges do “ryôban”, vai agora oficiar duas cerimônias de recitação de sutras. A primeira (Zuise Shukutô) é a recitação do Maka Hannya Haramitta Shingyô (Sutra do Coração da Grande Sabedoria) na Sala de Buda e a segunda (Zuise Jôgu) é a recitação do Daihishin Darani (Mantra da Grande Mente de Compaixão) na Sala dos Fundadores.
Não há palavras para descrever a emoção deste momento – oficiando a cerimônia num templo-sede da escola, ouvindo o som da recitação pelas vozes dos aproximadamente 200 monges-em-treinamento e professores do templo-sede. E a plena atenção, mesmo com lágrimas de emoção nos olhos, no esforço de lembrar os “timings” das prostrações e ofertas de incenso e para acertar os detalhes dos movimentos, tais como aproximar-se ao altar e, ao afastar-se do altar lembrar-se de virar em direção horário (no Eiheiji) ou em sentido anti-horário (Sojiji). E o cuidado com a maneira de segurar o “nyoi” (Sojiji) ou de segurar e movimentar o “hossu” (Eiheiji) (os “cetros” de oficiante).
Terminadas as duas cerimônias, o novo “Oshô” retorna à sala de recepção. Depois de devolver o “nyoi” ou “hossu” ao atendente, recebe os parabéns dos monges que tomaram parte formando o “ryôban” – e os responde agradecendo a colaboração de todos nas cerimônias. Todos se reverenciem mutuamente com prostrações.
Depois de um momento para a fotografia oficial (se esta foi encomendada), há um encontro com o “Kannin” (Administrador Chefe) do mosteiro (ou seu representante) para um chá e pequeno bate-papo.
Por fim, recebe um café de manhã “espectacular” – com uma quantidade de comida impossível de se comer… .
Termina as formalidades com uma pequena cerimonial de agradecimento e despedida do atendente (zuian) e assistente do atendente (zuiji) que o cuidaram durante todo este processo. Acabaram-se as formalidades – são oito horas da manhã, mais ou menos. Foi um dia muito cheio… .
Ler mais:
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– Qual o Significado de Shukke Tokudo?
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– Qual o Significado de Jukai?
– Os Preceitos do Bodisatva
Ler também: What does it take to become a full-fledged Soto-shu priest? (em inglês)
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. Part 2: Ten points to keep in mind about dharma transmissio
. Part 3: Ten-e and some words about Zui-se
. Part 4: Zui-se – abbot for the night
. Part 5: Sessa-takuma – ango as life in a rock grinder
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