Tôzan Ryôkai e Concordar ou Não com o Mestre

outubro 30, 2017 às 5:42 pm | Publicado em Blogroll, Meditação em Porto Alegre, Prática Zen Budista, Professor de Darma Zen Budista, Zen Budismo em Porto Alegre | Deixe um comentário
TozanRokai-DongshanLiangjie-FounderSotoZenChines1

Tôzan Ryôkai

Há uns dois dias, finalmente encontrei um koan no texto O Registro de Tung-shan (The Record of Tung-shan, traduzido para o inglês por William F. Powell) que vinha procurando já fazia algum tempo. Este koan ajuda explicar um pouco o que um professor do zen espera do seu aluno na medida em que este se forma, ou seja, vai completando o seu treinamento e recebendo a Transmissão de Darma.

Fala de uma conversa entre o Mestre Tôzan Ryôkai (Dongshan Liangjie), um dos dois fundadores da nossa escola Soto Zen na China e um dos seus alunos.

O aluno perguntou se o fato dele estar realizando um grande serviço memorial para o seu antigo mestre, Yün-yen, significava que Tôzan concordava totalmente com aquele mestre.

O Mestre Tôzan respondeu que concordava com a metade e discordava da outra metade.

Aí o aluno perguntou então, por que ele não concordava com tudo.

Encontrei duas traduções da resposta genial do Mestre Tôzan:

Uma tradução ficou “Porque concordar totalmente seria não-filial”.

A segunda tradução diz: “Se eu concordasse completamente, estaria faltando gratidão com o meu mestre.”

Porque isto? Depois de anos obedecendo o mestre durante o período de treinamento, quase sem espaço de manifestar opinião, como é possível dizer que, depois de formado, NÃO discordar com a metade dos ensinamentos do mestre seria uma atitude não-filial ou uma falta de gratidão???

A resposta é simples: Porque a maioria dos professores de darma não estão interessado em formar cópias de si mesmo. Sendo assim, muitos acabam até formando seus futuros dissidentes (e podem até se orgulhar disto)!

Como? Porque a finalidade do treinamento é de “tirar as falsas cabeças de cima da cabeça verdadeira” do aluno.

Ao iniciar o treinamento do aluno, o professor ainda não sabe qual será a “verdadeira cabeça” daquele aluno – e o aluno sabe menos ainda – pois está com uma ou mais falsas cabeças por cima de sua própria. São os condicionamentos, neuroses, traumas, crenças falsas e/ou limitantes – sem falar da não-realização do profundo significado dos Quatro Nobres Verdades como ensinados pelo Buda.

Aos poucos, espera-se que o aluno comece a manifestar o seu verdadeiro ser – sua essência, perceber suas verdadeiras opiniões e descobrir o seu verdadeiro caminho, que pode acabar sendo bastante diferente daquilo que ele ou o professor haviam imaginado no começo. SEM PROBLEMA! Isto não o impede de continuar estudando com o professor que o levou até este ponto de auto-descoberta. Só significa que se faça reajustes no relacionamento – o que acontece naturalmente com a Transmissão de Darma (que pode não significar ainda que o aluno tenha se tornado Professor de Darma). O importante, para o professor, é do aluno se descobrir e realizar a si mesmo – do seu próprio jeito.

Bem, já falei demais aqui, dando muita coisa de bandeja. Agora, reflita até levar a realização deste ensinamento até a medula dos seus ossos e, em seguida, vá lá e estude o koan do “Dedo de Gutei”…

 

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