Não é preciso fazer Zazen, portanto é preciso fazer Zazen – Parte 1
julho 24, 2014 às 9:13 am | Publicado em Professor de Darma Zen Budista, Revistas - Artigos e Entrevistas | 1 Comentário
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Não é preciso fazer zazen. Não é preciso praticar. Logo, precisamos fazer zazen, precisamos praticar. Percebe? Você vê este não precisar? Infelizmente, muitos de nós, a maior parte do tempo, vivemos em um mundo de precisar e não precisar. “Preciso disto”; “Não preciso daquilo”. E acreditamos profundamente nisso como sendo a verdade sobre quem somos e o que o mundo é. Todos os tipos de efeitos derivam disso: sofrimento, estresse e dor. Isto não é algo novo. Muitos de vocês conhecem o diálogo entre Bodhidharma e o Imperador Wu, no comentário ao primeiro caso do “Registro do Penhasco Azul”. O Imperador pergunta a Bodhidharma: “Eu apoiei a ordenação de monges, construí e mantive templos. Qual o mérito que há nisso?”. “Nenhum”, respondeu Bodhidharma.
Quando fazemos coisas visando ganho ou perda e estamos apegados a ganho e perda, neste momento abandonamos nosso patrimônio. Nós abandonamos quem somos por um mundo de ter mais ou menos, gostar e desgostar. Acreditamos que somos incompletos, ou sedentos por ganhos, necessitando melhorias. Transformamos o zazen em algo que nos tornará melhores, que causará mudanças. Sim, permanecemos sentados, e corpo-mente se aquieta; causa e efeito, os chamados efeitos presentes e futuros do acalmar corpo-mente. Mas, se esse é o limite de nosso zazen, então, bem ali, limitamos quem somos. Este é um zazen que visa lucro – uma prática e uma vida de tentar melhorar e obter algo a mais -, que na realidade desvia do que realmente somos.
Desde o princípio, Dōgen Zenji enfatiza que a prática está na realização, clarificando o mal-entendido que a realização é o resultado da prática, o mal-entendido que o olho do Dharma verdadeiro do maravilhoso tesouro do nirvana resulta de fazer algo e, portanto, de acumular e melhorar. Apesar do fato de oferecermos o mérito da recitação, do incenso, para o bem-estar dos outros… não há mérito. Não há mérito. Não há necessidade. Não lhe falta nada. Percebe? Mas você não acredita.
“Se praticarmos com uma ideia de ganho, estaremos no caminho errado.” Elihu Genmyo Smith
O Buddha disse que todos os seres são a sabedoria e a perfeição de Buddha. O que isto quer dizer? Quer dizer que “não é preciso fazer zazen”. Este é quem você é. Você não acredita nisso algumas vezes. O zazen não é necessário, logo, precisamos fazer zazen. Não deveríamos, devemos! Devemos ser quem somos. Este é o zazen que eu estimulo todos a serem. Esta é a vida que devemos ser.
O que é essa vida do “dever ser”?
Ao ouvir este “sem mérito”, o Imperador Wu fica confuso. Ele gastou uma fortuna, colocou muito esforço nisso, e foi elogiado por muitas pessoas por sua atividade e resultados maravilhosos. Então o Imperador Wu pergunta a Bodhidharma: “Qual é o princípio fundamental, qual é a verdade sagrada?”. Bodhidharma então responde: “Imenso vazio, sem virtudes”. Essa é a verdade de nossa vida, a verdade do zazen. Essa é a verdade, a verdade do ensinamento do Buddha, o budhadharma. Apesar de nosso anseio de nos apegarmos às nossas crenças em melhor e pior, em quais circunstâncias devem ser e quais circunstâncias não devem ser, “quais circunstâncias” significa imenso vazio, sem virtudes. Esse é o zazen do tipo “ter-que-fazer”.
Então, o Imperador Wu pergunta a Bodhidharma: “Quem é você? Quem está na minha frente?”. Bodhidharma revela mais uma vez: “Não sei”.
Por favor, percebam quais formas de barganhas às vezes deixamos entrar no nosso zazen, na nossa prática, e liberem-nas, esvaziemos nossas mãos delas. Não há problema de elas surgirem, mas abram as mãos e as liberem. Ter que fazer zazen não é “Eu devo fazer o zazen para me livrar dessa condição, para melhorá-la”. Imenso vazio, sem virtudes. Senão, vamos continuar acreditando nas histórias de ganho e perda. Nós realmente acreditamos nelas, e de certa forma as reforçamos. Tornamos essas histórias mais verdadeiras para nós, e aí, quanto mais tentamos melhorar, quanto mais tentamos fugir das crenças em carência, mais as carregamos. Apesar do fato de pensarmos que escapamos delas, na mesma proporção de nossos esforços por evitá-las, nós as reproduzimos, mesmo que temporariamente; nós não as vemos, não as sentimos. Porque estamos presos a ganhos, perdas, gostos, desgostos… à medida que falhamos em ser isso que nós somos, essa não necessidade de zazen. Não há necessidade de zazen, então, devemos fazer zazen. O que Bodhidharma fez quando deixou o Imperador Wu? Ele foi embora e se sentou em uma caverna por nove anos. Alguns de vocês já estiveram nessas cavernas, na China. Não há necessidade de se fazer zazen, então, ele se senta durante nove anos. Esse é o zazen sem mérito. É sobre isto que estamos conversando. (Segue)
Não é preciso fazer zazen. Não é preciso praticar. Logo, precisamos fazer zazen, precisamos praticar. Percebe?
Tradução livre do grupo “Tradutores do Zen” (colaboraram neste texto Bruno Melnic Pir, Josiane Paula Borges e Emerson Ricardo Zamprogno; supervisão de Isshin-sensei; revisão ortográfica de Rodrigo Daien). Texto originalmente publicado no site http://sweepingzen.com/, de autoria de Elihu Genmyo Smith (saiba mais sobre o mestre na conclusão deste trabalho).
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Comment by Paulo Hosai— julho 29, 2014 #